Internacional

Ucrânia ordena evacuação de crianças em vilas do sul do país em meio a bombardeios

Policiais vão de porta em porta para convencer pais que relutam em ficar na região

Agência O Globo - 25/10/2023
Ucrânia ordena evacuação de crianças em vilas do sul do país em meio a bombardeios
Ucrânia

O governo ucraniano ordenou a evacuação de centenas de crianças em aldeias no sul da Ucrânia. Para isso, policiais foram convocados a ir de porta em porta e convencer os pais de que é hora de escapar dos intensos bombardeios da Rússia na região.

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Autoridades também estão evacuando crianças no leste da Ucrânia, onde as forças russas estão lançando alguns dos maiores ataques ofensivos em meses. Pelo menos 41 crianças já foram retiradas nos últimos dias. O governo local pede às famílias de pelo menos oito comunidades para que sigam o exemplo de seus vizinhos e se mudem para um local seguro.

Ordens de evacuação dessa natureza não são as primeiras nos 20 meses de guerra até aqui, mas destacam a intensidade dos combates em um momento em que tanto a Ucrânia quanto a Rússia realizam ataques em pequenas vilas, localizadas perto das linhas de frente.

O fato de que a frente tem permanecido em grande parte estática por quase um ano pode encobrir a escala da violência que se desenrola diariamente ao longo de um território que se estende por mais de 1.600 quilômetros, da costa do Mar Negro até a fronteira russa.

Medir a intensidade dos combates pode ser difícil, mas as ordens de evacuação ucranianas frequentemente coincidiram com os períodos mais violentos. E embora a maioria das cidades e vilas ao longo da frente esteja agora em grande parte abandonada, milhares de famílias ainda se recusam a sair.

Chefe do serviço de imprensa da administração militar regional de Kherson, Oleksandr Tolokonnikov disse em uma entrevista na terça-feira (24) que a violência ao longo do rio Dnieper tem aumentado há semanas, e as famílias foram ordenadas a deixar 36 assentamentos no mês passado. Cerca de 450 crianças saíram, segundo ele, mas mais de mil permaneceram.

Então, nesta semana, as autoridades decidiram intensificar seus esforços para convencer "famílias marginalizadas" de que precisavam se mudar, incluindo cerca de 800 crianças.

— A polícia agora irá até eles tentando persuadi-los a evacuar — disse ele. — Eles não podem simplesmente levar as crianças. Então eles terão que trabalhar com as famílias, sob bombardeios.

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Inna Kholodnyak, diretora do Hospital Infantil Regional de Kherson, cuidou de quatro ou cinco crianças nos últimos dias.

— Eram ferimentos e lesões causadas por explosões — disse ela. — Sou médica e mãe e não acho que crianças devam permanecer em territórios sob bombardeio constante. Elas deveriam ser levadas para um local seguro.

Ivan Antypenko, um jornalista ucraniano de Kherson que trabalha para a Rádio Liberdade, visitou mais de uma dúzia de aldeias no lado controlado pela Ucrânia do rio que foram bombardeadas nos últimos dias. Ele disse que era difícil descrever a vida lá porque estava tão longe do que a maioria das pessoas poderia entender.

— É simplesmente horrível — disse ele, em uma videochamada.

Enquanto os russos vêm bombardeando ao longo do rio Dnieper desde que foram forçados a recuar há quase um ano, eles estão cada vez mais usando bombas de mil libras lançadas de aeronaves capazes de destruir prédios inteiros. Autoridades locais disseram que durante o verão, o exército da Rússia lançava uma ou duas dessas munições todos os dias. Agora, eles podem lançar mais de duas dúzias em um único bombardeio, de acordo com o governo.

A Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) disse nesta semana que os russos foram auxiliados por colaboradores "subterrâneos" anti-ucranianos em Kherson que estavam "direcionando foguetes e bombas aéreas guiadas da Federação Russa a prédios residenciais" e que suspeitos foram presos e seriam julgados por acusações relacionadas a traição.

"Os três membros do grupo inimigo, que corrigiram os ataques de artilharia e foguetes na cidade, foram detidos", disse a agência.

Os bombardeios ao redor de Kherson ocorrem à medida que as forças ucranianas intensificaram os ataques ao longo do rio Dnieper, o que analistas militares especularam ser parte de um esforço mais ambicioso para estabelecer uma cabeça de ponte adequada na margem leste. Isso lhes permitiria atacar as linhas de suprimento russas de forma mais eficaz.

O exército ucraniano falou pouco sobre os ataques e o cenário geral permanece incerto.

O objetivo de Kiev pode ser simplesmente esticar os recursos da Rússia. Moscou, por outro lado, continua demonstrando capacidade de gerar forças suficientes para se defender no sul enquanto, mais uma vez, parte para a ofensiva no leste da Ucrânia.

O Estado-Maior Ucraniano disse na terça-feira de manhã que as forças russas lançaram ataques ao longo de toda a frente leste na segunda-feira, com algumas das batalhas mais brutais dos últimos meses sendo travadas ao redor da cidade de Avdiivka, na região de Donetsk.

As forças russas estão bombardeando pesadamente uma estrada vital que leva à cidade sitiada, afirma Vitaliy Barabash, chefe da administração militar de Avdiivka.

— Isso complica tanto a evacuação de civis quanto a importação de ajuda humanitária — diz ele, considerando que, embora a maioria dos 30 mil residentes civis da cidade tenha fugido há muito tempo, cerca de 1.700 pessoas permanecem.

Os russos cercaram a cidade por três lados, mas não conseguiram vencer as forças ucranianas e capturá-la. Apesar de sofrerem pesadas perdas desde que o Kremlin ordenou que suas forças fossem à ofensiva no início deste mês, os russos parecem determinados a continuar lançando ataques.