Internacional

Ataques a tiros nos Estados Unidos dobram em 10 anos e país bate recorde em 2023, com 602 mortes

País lidera o ranking global de posse de armas por civis, que em muitos estados não precisam nem de licença para portá-las

Agência O Globo - 26/10/2023
Ataques a tiros nos Estados Unidos dobram em 10 anos e país bate recorde em 2023, com 602 mortes
Foto: AGENCIA BRASIL

Era para ser uma noite como outra qualquer em Lewiston, uma pequena cidade do Maine, no nordeste dos Estados Unidos, onde vivem cerca de 36 mil pessoas. Mas a tranquilidade logo se transformou em pesadelo, quando um homem armado com um rifle semiautomático invadiu uma pista de boliche por volta das 19h (23h em Brasília) de quarta-feira e atirou nos presentes. Dezoito pessoas morreram e 13 ficaram feridas. A cena, apesar de dantesca, não é incomum.

Ataques a tiros contra civis tornaram-se cada vez mais frequentes nos EUA, onde a legislação sobre o porte de armas diverge de estado para estado e em muitos deles sequer é exigida uma licença para os civis que desejam portá-las em público. De 1º de janeiro a 26 de outubro, foram registrados 566 ataques com armas de fogo no país, com ao menos 602 mortos e 2.343 feridos, segundo dados do Gun Violence Archive, uma organização sem fins lucrativos que cataloga todos os incidentes de violência armada no país.

Os números são os mais altos dos últimos dez anos e representam um aumento de mais de 200% se considerado o mesmo recorte temporal na série histórica.

De 1º de janeiro a 26 de outubro deste ano, foram registrados 566 ataques com armas de fogo nos Estados Unidos, que deixaram ao menos 602 mortos e 2.343 feridos, segundo dados do Gun Violence Archive, uma organização sem fins lucrativos que cataloga todos os incidentes de violência armada no país. x

Em 2014, quando um criminoso condenado atirou fatalmente em sua filha e seis netos antes de se matar na Flórida, o Gun Violence Archive registrou 227 massacres, 211 mortes e 915 feridos de janeiro a outubro — 272, 257 e 1.075, respectivamente, no acumulado até dezembro. Foi também o último ano em que a média de tiroteios em massa ficou abaixo de um por dia nos Estados Unidos, segundo informações do Mass Shooting Tracker, outra iniciativa de compilação de dados sobre o assunto.

EO Gun Violence Archive, assim como o FBI, considera um tiroteio em massa os ataques com arma de fogo que têm um mínimo de quatro vítimas baleadas, feridas ou mortas, sem incluir qualquer atirador que também possa ter sido morto ou ferido no incidente. Já o Mass Shooting Tracker inclui o próprio atirador ou os disparos da polícia contra civis ao redor do atirador.em massa, acima dos 688 eventos recordes daquele ano.

O Gun Violence Archive, assim como o FBI, considera um tiroteio em massa os ataques com arma de fogo que têm um mínimo de quatro vítimas baleadas, feridas ou mortas, sem incluir qualquer atirador que também possa ter sido morto ou ferido no incidente. Já o Mass Shooting Tracker inclui o próprio atirador ou os disparos da polícia contra civis ao redor do atirador.

Epidemia americana

As mortes por armas de fogo são consideradas uma epidemia nos EUA, que lidera o ranking global de posse de armamentos por civis. O país tem mais armas do que pessoas: um em cada três adultos possui pelo menos uma arma e quase um em cada dois vive em uma casa onde existe uma arma.

A consequência desta proliferação é o índice de mortes por armas de fogo, mais alto que o de outros países desenvolvidos. Em 2019, foram registradas mais de 37 mil vítimas fatais por arma de fogo nos EUA, abaixo apenas do Brasil (49,4 mil) e bem distante da França (2 mil), segundo dados da iniciativa independente World Population Review.

Excluindo os suicídios, mais de 15 mil pessoas morreram devido à violência armada desde o início deste ano nos Estados Unidos, de acordo com o Gun Violence Archive. O ataque de quarta-feira, no Maine, foi o mais mortal registrado no período e o segundo com o maior número de mortos da História do país, atrás apenas do massacre ocorrido em outubro de 2017 em um festival de música country ao ar livre em Las Vegas, que deixou pelo menos 59 mortos e mais de 500 feridos.

Os esforços para reforçar o controle de armas nos EUA se chocam há anos com a oposição dos republicanos, defensores do direito constitucional de portar armas.

Em 2022, mesmo após uma sequência de ataques a tiros — entre eles o na escola em Uvalde, no Texas, que matou 19 crianças — a Suprema Corte, de maioria conservadora, derrubou uma legislação vigente há mais de um século no estado de Nova York que impunha limites ao porte de armas fora de casa, afirmando que ela era inconstitucional.