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Israel terá 'responsabilidade total' sobre Gaza por 'tempo indefinido' após fim do conflito, diz Netanyahu

O primeiro-ministro reiterou que não permitirá um cessar-fogo geral até que todos os mais de 240 reféns sejam libertados pelo Hamas

Agência O Globo - 07/11/2023
Israel terá 'responsabilidade total' sobre Gaza por 'tempo indefinido' após fim do conflito, diz Netanyahu
Netanyahu - Foto: Reprodução

Israel assumirá a "responsabilidade geral de segurança" em Gaza por um "período indefinido" após o fim da guerra contra o Hamas, disse o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em uma entrevista veiculada na rede americana ABC News nesta segunda-feira, descartando novamente um "cessar-fogo geral" sem a libertação dos reféns capturados pelo grupo terrorista no ataque de 7 de outubro. A declaração ocorre após pressão de Washington sobre a possibilidade de "pausas táticas" nos amplos ataques israelenses à Faixa de Gaza, que já deixaram mais de 10 mil mortos, incluindo 4.104 menores de idades e 2.641 mulheres, desde o início do conflito.

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— Acho que Israel terá, por um período indefinido, a responsabilidade geral pela segurança, porque vimos o que acontece quando não a temos — disse o premier em entrevista concedida ao World News Tonight, do âncora David Muir, acrescentando que Gaza deve ser governada por "aqueles que não querem continuar o caminho do Hamas".

Ele também reiterou que não permitirá um cessar-fogo geral até que todos os mais de 240 reféns sejam libertados pelo Hamas, acrescentando que tal ação poderia prejudicar os esforços de defesa de Israel e que a única coisa que funciona com o grupo terrorista "é a pressão militar" que as forças israelenses estão exercendo no território.

No entanto, Netanyahu expressou abertura para a realização de pequenas pausas táticas, como permitir a entrada de ajuda humanitária ou a saída individual de reféns:

— No que diz respeito a pequenas pausas táticas, uma hora aqui, uma hora ali. Já as tivemos antes, suponho, vamos verificar as circunstâncias para permitir a entrada de mercadorias, ajuda humanitária, ou a saída de nossos reféns. Mas não acho que haverá um cessar-fogo geral — disse ele.

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Mais cedo, o primeiro-ministro e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversaram sobre a "possibilidade de pausas táticas" do Exército de Israel na Faixa de Gaza para permitir que os civis palestinos fujam dos combates. Durante a conversa por telefone, Biden e Netanyahu avaliaram que essa decisão daria "aos civis oportunidades de sair de maneira segura das zonas de combate, garantir que a ajuda chegue aos que precisam, permitindo possíveis libertações de reféns", afirmou a Casa Branca em um comunicado.

Embora nenhum acordo aparente tenha sido alcançado durante a ligação, segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, o governo americano considera que as partes ainda estão no "início desta conversa".

O Exército de Israel tem bombardeado incessantemente Gaza e invadido o território em resposta ao ataque lançado em 7 de outubro pelo Hamas — que deixou 1,4 mil mortos, a maioria civis, e fez cerca de 240 reféns, ainda desaparecidos, segundo autoridades israelenses.

Do lado da Palestina, os números já ultrapassaram a marca de 10 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas. Na sua entrevista, Netanyahu também lançou dúvidas sobre os dados e disse que certamente incluem "vários milhares" dos terroristas do grupo.

Sobre o papel do Irã e do Hezbollah no conflito, Netanyahu os advertiu para não se envolverem de maneira significativa, pois isso desencadearia uma resposta "muito, muito poderosa" por parte de Israel.

Conflito sem solução imediata

Na semana passada, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, sugeriu que a fase final do conflito culminaria com a "a responsabilidade de Israel pela vida na Faixa de Gaza" ao estabelecer uma "nova realidade de segurança para os cidadãos de Israel", mas uma solução para o futuro de Gaza não é das mais simples.

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Em agosto de 2014, após um grave conflito entre Israel e o Hamas, surgiram ideias sobre o que fazer com Gaza, num documento confidencial fornecido ao NYT. O texto diz que "um regresso ao status quo produzirá uma nova guerra" e que a Autoridade Palestina (ANP), que administra partes da Cisjordânia, é "muito fraca e dividida para governar".

A melhor solução, segundo o documento, seria autorizar as forças das Nações Unidas a controlar as fronteiras de Gaza, enquanto as milícias palestinas fossem dissolvidas e desarmadas e o bloqueio israelense e egípcio a Gaza fosse gradualmente removido. Em 2014, o jornal presumiu que o Hamas ainda controlaria Gaza, mas em troca poderia concordar em moderar o seu comportamento.

Nove anos depois, o artigo pode servir de ponto de partida. Se o Hamas e grupos semelhantes forem destruídos em Gaza, como Israel promete, talvez a ONU possa ajudar a manter a paz dentro de Gaza, como uma espécie de força policial suplementar, enquanto o estatuto e a credibilidade da Autoridade Palestina forem restabelecidos.

No conflito atual, Israel terá de controlar o que resta de Gaza e guarnecer as Forças de Israel no local até que algum tipo de solução política lhes permita partir, o que irá sobrecarregar o Exército, especialmente se o Hezbollah abrir uma segunda frente a partir do sul do Líbano, ou se houver uma onda de violência na Cisjordânia ocupada entre colonos e palestinos. (Com agências internacionais.)