Internacional

Doze anos de assédio: empresa de crédito de carbono contratada por Shell e Netflix é alvo de denúncias no Quênia

ONG foi exaltada em documentário pela iniciativa ambiental e pela 'contribuição para o empoderamento de mulheres'

Agência O Globo - 08/11/2023

Ex-funcionários do projeto queniano “Corredor Kasigau”, que atua com crédito de carbono, denunciaram casos de extenso abuso sexual, assédio e exploração entre 2011 e 2023 por funcionários com cargo de chefia. O projeto de conservação, bancado pela empresa Wildlife Works, sediada na Califórnia, tem entre seus clientes as gigantes globais Shell e Netflix.

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Segundo o The Guardian, um novo relatório da Comissão de Direitos Humanos do Quénia (KHRC) e do Centro de Investigação sobre Corporações Multinacionais (Somo), uma ONG holandesa, foi produzido com o testemunho de 31 atuais e ex-funcionários, homens e mulheres, assim como de membros da comunidade local.

Em um comunicado, divulgado pelo presidente da empresa, Mike Korchinsky, ele afirma que soube das acusações em agosto, e três pessoas foram suspensas. Uma investigação interna foi conduzida por um escritório de advocacia, que encontrou provas de que dois indivíduos se envolveram em “comportamento profundamente inapropriado e prejudicial”.

Korchinsky pediu desculpas pela “dor causada”, mas negou que o problema fosse generalizado, dizendo que a má conduta de assédio sexual fundamentada foi perpetrada por um indivíduo. Ele também disse que algumas das alegações não foram comprovadas.

O projeto da Wildlife Works gera créditos de carbono ao proteger florestas secas em risco de serem destruídas em habitats de elefantes, leões e outras espécies. Os créditos são vendidos para grandes empresas que operam com sistema de compensação pelos danos causados ao meio ambiente.

O projeto foi o primeiro do tipo aprovado pela Verra, principal certificador mundial de compensações de carbono, e também foi credenciado pela biodiversidade e pela atuação comunitária.

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As denúncias vieram a público a partir de um relatório contendo entrevistas com funcionárias vítimas de violência. Os relatos incluíram alegações de agressão física e tentativa de assédio sexual nas instalações da empresa. Segundo as funcionárias, homens mais velhos, em cargo de chefia, usaram as suas posições para exigir sexo em troca de promoções e melhor tratamento.

O “Corredor Kasigau” ganhou notoriedade após um vídeo promocional da Netflix, que exaltava o trabalho feito pelo projeto e a contribuição para o empoderamento de mulheres.

De acordo com o Guardian, várias outras grandes empresas utilizaram créditos do projeto para atender compromissos climáticos e de biodiversidade. A petroleira Shell teria comprado quase 2 milhões de créditos, enquanto a Netflix comprou 250 mil.