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Desconheço ingerência de Lula em campanha contra argentino Milei, diz principal articulador político de candidato ao GLOBO

Em entrevista no último domingo, candidato da direita radical acusou o presidente brasileiro de financiar a campanha do peronista Sergio Massa e de 'semear medo' na sociedade do país

Agência O Globo - 08/11/2023
Desconheço ingerência de Lula em campanha contra argentino Milei, diz principal articulador político de candidato ao GLOBO
Lula - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Aos 73 anos, Guillermo Francos, um veterano da política argentina, tornou-se o principal articulador da campanha do candidato à Presidência da direita radical Javier Milei. Em entrevista ao GLOBO, Francos, que já participou de governos peronistas e era, até dois meses atrás, o representante da Argentina no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), afirmou não conhecer provas sobre a suposta ingerência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral argentina.

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Em entrevista ao canal de TV do grupo La Nación, domingo passado, o candidato do partido A Liberdade Avança disse ter recebido denúncias de bolsonaristas e de “alguns jornalistas brasileiros [de] que Lula está interferindo nesta campanha, financiando parte dela, e dentro desse pacote existe um conjunto de consultores brasileiros que são os melhores especialistas em campanha negativa, eles semeiam medo na sociedade”.

— Não tenho nenhuma informação sobre isso, apenas o que disse Milei —assegurou Francos.

O principal articulador de Milei disse que a eleição presidencial argentina tem final aberto, mas que se sentem ganhadores.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Milei acusou o presidente de Lula de interferir na campanha de Sergio Massa, candidato governista, e até mesmo de financiá-la, dizendo que teve acesso a informações transmitidas por pessoas próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2023) e por jornalistas brasileiros, que não identificou. A campanha de Milei está acusando Lula de ingerência na campanha argentina?

Esse foi o comentário que fez Milei num programa de televisão no domingo de noite. O que sei é que existe uma equipe especialista em campanhas negativas que trabalha para Massa, uma equipe brasileira, com muitas pessoas na Argentina e outras pessoas trabalhando no Brasil [para Massa]. Não posso dizer que Lula tenha alguma ingerência nisso, porque não tenho conhecimento disso, apenas o que comentou Javier Milei.

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Ele falou em interferência e financiamento de Lula…

Ele disse isso publicamente, não tenho nenhuma informação sobre isso, apenas o que disse Milei.

A campanha está preocupada com as declarações de Milei sobre uma suposta interferência de Lula?

Talvez isso [as declarações de Milei] tenha a ver com as posições ideológicas do presidente [brasileiro] e do candidato [argentino]. Claramente, Lula tem uma posição ideológica diferente da de Javier Milei, que, por sua vez, também tem outra posição ideológica. É lógico que tenham resistências recíprocas. Agora, se Lula estiver, de fato, participando da campanha argentina, seria um erro, pensando no futuro de nossas relações.

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Não existem provas sobre o que disse Milei.

Não sei, não as conheço.

A disputa entre Massa e Milei, segundo as pesquisas, está acirrada. Como o senhor está vendo a campanha?

Temos muita confiança, mas é uma eleição com final aberto. Não sabemos quantos pontos percentuais [em matéria de intenções de voto] separam um candidato do outro, estão circulando diferentes pesquisas. Mas é difícil acreditar nelas, algumas pretendem confundir ou gerar abstenção, existem muitas operações políticas com as sondagens.

Com tanta campanha negativa, tanta estratégia, acho que existe de tudo. Existem os que dizem que Milei está ganhando para que muitas pessoas não votem, porque acham que Milei vai ganhar a eleição. Por outro lado, outras pesquisas podem dizer que Massa está na frente para se projetar como vencedores e conseguir uma adesão maior.

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Milei não se vê como um claro ganhador ainda?

Sentimos que somos ganhadores, mas isso não significa que sejamos ganhadores claros. Ser um ganhador claro significa ter uma diferença que supere qualquer obstáculo eleitoral que surge em todas as eleições. Temos de ser cuidadosos, convocar as pessoas para que votem e defendam o sistema democrático. Temos de controlar bem a eleição, para que a transparência seja indiscutível.

Domingo passado houve protestos em Buenos Aires contra o governo, contra Massa, e algumas pessoas levaram cartazes denunciando uma suposta fraude no primeiro turno. Qual é a posição da campanha de Milei sobre essas denúncias?

Isso circulou muito nas redes sociais, com vídeos, fotos, etc… Houve alguma coisa, mas não podemos expressar com provas que foi uma fraude eleitoral sistemática. De forma alguma.

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Por isso a campanha de Milei não fez uma denúncia formal…

Sim, mas no segundo turno teremos mais pessoas fiscalizando, e as possibilidades de eventuais fraudes eleitorais não serão generalizadas.

Milei já está montando seu governo, em caso de vitória, com a incorporação de dirigentes da aliança opositora Juntos pela Mudança?

Javier tem sua equipe na cabeça, mas claro que, neste novo contexto depois da eleição, conversará com outros atores da política argentina que expressaram seu apoio, para ver de que maneira podem colaborar com a governabilidade, seja no Parlamento ou na função que corresponder. Teremos de analisar com serenidade e reflexão os passos que serão dados depois da eleição.

Depois do primeiro turno, Milei adotou uma postura mais moderada. Houve uma mudança de estratégia em busca de votos menos radicais?

Muitos dizem isso. Acho que Milei sempre deixou claro que algumas questões não são negociáveis, entre elas a dolarização e a eliminação do Banco Central. Mostrar-se como antikirchnerista sempre foi parte da campanha, e agora a disputa é entre continuidade e mudança, e nós somos a mudança. A continuidade é o kirchnerismo massista.

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Milei se coloca como a alternativa de mudança, e tenta chegar a todos os setores que querem essa mudança.

Restam menos de duas semanas de campanha. Quais são os objetivos centrais da campanha de Milei?

Milei está percorrendo a região da Grande Buenos Aires, que para nós é muito importante. Vamos encerrar a campanha em Córdoba, porque os 7% dos votos que teve [Juan] Schiaretti no primeiro turno são muito importantes também. Em Córdoba existe muito voto antikirchernista e a favor das ideias da liberdade.