Brasil
Queda de raios responde por minoria de incêndios florestais no Brasil, aponta pesquisa; veja principal causa
Análise do Grupo de Eletricidade Atmosférica mostra que eles causam apenas 5% das queimadas; ação humana, intencional ou não, é responsável pelos 95% restantes
Raio é o que não falta no Brasil, mas não adianta culpar o céu quando pega fogo aqui embaixo. Análise do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revela que a queda de raios causa menos de 5% dos incêndios florestais em todo o país. A ação humana, intencional ou não, é responsável pelos 95% restantes.
No Pantanal, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ), o percentual é de 1%. Na Amazônia, segundo o ELAT, os raios não só não causam incêndios florestais significativos quanto estão menos frequentes.
De clima quente e úmido, o Brasil tem um perfil de incêndios florestais associados a raios bem diferente de outros países. No Canadá, os raios provocam 50% dos incêndios florestais. Nos EUA, de 15% a 20%, de acordo com o ELAT. Nesses países fatores como tipo de vegetação e solo influenciam a maior vulnerabilidade ao fogo. Além de também haver menos incêndios causados por ação humana.
— A quantidade de incêndios causada por raios é mínima no Brasil. Além disso, é extremamente difícil que raios provoquem incêndios de grandes proporções. Quase a totalidade dos focos de fogo é muito pequena — explica o coordenador do ELAT, Osmar Pinto Júnior.
O motivo é que os raios são acompanhados de chuva, que apaga as chamas e impede a propagação do fogo. Segundo Pinto Júnior, é pequena a mortalidade de árvores por raios. A maioria dos focos se extingue sozinha ou é suprimida sem se alastrar, quando combatida a tempo.
Nos incêndios deste ano no Pantanal, os maiores desde 2020, só um comprovadamente foi causado por raios e afetou o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, em Poconé, no Mato Grosso, frisa a coordenadora do LASA, Renata Libonati. O grupo liderado por ela fez o mais completo estudo sobre incêndios florestais causados por raios no Pantanal, baseado em análises de séries históricas de seis anos, em períodos úmidos e secos.
— Os raios podem iniciar focos de fogo, mas eles não se propagam. Incêndio florestal no Pantanal não é natural. Alguém tem que iniciar, intencional ou acidentalmente — enfatiza a cientista.
Ela destaca ainda que não existe ignição espontânea.
— Combustão espontânea é mito. Para que haja fogo é preciso que alguém faça a ignição, seja uma brasa de cigarro ou fogareiro ou queimando propositalmente áreas — explica Libonati.
Ela diz que enquanto os incêndios florestais na Amazônia quase sempre estão ligados a desmatamentos, no Pantanal muitas vezes são iniciados por uso inadequado do fogo ou acidentalmente. O fogo faz parte da dinâmica do Pantanal, porém, se usado em períodos muito quentes e secos, facilmente sai do controle. Produtores rurais o usam para limpar o pasto, mas nos períodos de calor e seca podem perder o controle de suas queimadas. Até a queima de lixo pode causar um incêndio.
— É preciso melhorar não apenas o combate, mas o manejo integrado do fogo — observa Libonati.
Pinto Júnior destaca que, devido a grandes tempestades, os raios estão mais frequentes no Brasil, país que já é o campeão mundial em descargas elétricas atmosféricas. Em 2022, caíram 191.419.672 raios, segundo o ELAT. Este ano, de janeiro a outubro, foram 172.355.248 raios, mais do que os 147.187.088, registrados no mesmo período de 2022. Porém, na Amazônia acontece o contrário e a ocorrência deles está diminuindo ano a ano.
— Em toda a Amazônia há menor queda de raios este ano. Ainda estamos fechando os dados de 2023, mas o motivo é a seca. Há menos tempestades e raios na Amazônia — frisa o especialista.
No estado do Amazonas, em setembro de 2022 foram registrados 7 milhões de raios, em outubro, 5,5 milhões. Já em 2023 esses totais caíram para 4,3 milhões e 4,7 milhões, respectivamente. O climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, destaca que a ação humana criminosa é a principal causa das grandes queimadas registradas no bioma este ano.
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