Brasil
Calor recorde e temporais: verão que começa amanhã deve ser um dos três mais quentes da história do Sudeste
Estação caminha para ser pelo menos tão rigorosa quanto o verão de 1997-1998, de 2013-2014 e de 2015-2016, os quentes já registradas, e todos sob El Niños
O verão começa amanhã com grande possibilidade de ser o mais quente da história do Sudeste. Se não bater o recorde, deve ficar entre os três mais tórridos já registrados, afirma Gilvan Sampaio, coordenador-geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A previsão segue a tendência mundial de aquecimento, em que 2024 superará 2023 como o ano mais quente já registrado na Terra.
— É muito provável que seja o verão mais quente, tornando as coisas difíceis, pois a estação já tem temperaturas elevadas. Por ora, ainda não podemos saber. É certo que será muito quente — diz Sampaio.
Segundo ele, este verão caminha para ser pelo menos rigoroso quanto os de 1997-1998, de 2013-2014 e de 2015-2016, as estações mais quentes já registradas, e todas sob El Niños (aquecimentos das águas do Pacífico) fortes. Em 2015, o Rio ficou 35 dias seguidos sem chuva entre janeiro e fevereiro.
O Inpe apresenta amanhã, com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as previsões de dezembro a março de 2024. Com o El Niño no nível forte e o Atlântico Norte ainda muito quente, o cenário para o Brasil não muda muito em relação à primavera, marcada por ondas de calor.
Mas as altas temperaturas poderão se acentuar em algumas regiões, especialmente o Sudeste. E há risco de grandes temporais.
O volume total de chuva na estação pode ser até menor. Porém, quando elas conseguirem romper as massas de ar quente, virão com intensidade. Todo o volume esperado para um mês pode cair em poucos dias, em tempestades destrutivas. Isso porque as temperaturas elevadas fazem com que o ar quente evapore e forme nuvens maiores.
— Temperatura alta combinada a mais vapor na atmosfera tem efeito exponencial. O aumento de 1 °C produz impacto imenso — explica Sampaio.
O coordenador do Inpe observa, no entanto, que o El Niño, historicamente, não está associado à maior incidência de desastres por chuva no Sudeste. Todavia, neste ano, o fenômeno está associado às mudanças climáticas e à elevação da temperatura do Atlântico, o que torna o cenário incerto no que diz respeito a chuvas.
Seca no Leste amazônico
As precipitações seguem no Sul, sobretudo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A seca é esperada tanto no Semiárido do Nordeste quanto na Amazônia. Porém, na Amazônia, a aridez se desloca para Norte e o Leste da região. O Amazonas, que viu alguns dos maiores rios da Terra se tornarem filetes de água, começa a se recuperar com a chegada de mais chuvas.
O Rio Negro, que teve a maior seca da História, mostra melhora. Também estão em situação menos crítica o Amazonas, o Solimões, o Madeira e o Purus.
Mas a estação seca no Amazonas estava associada, na primavera, à elevação da temperatura do Atlântico Norte, que bloqueia os canais de umidade da floresta. Desta vez, será o El Niño que causará problemas. E afetará sobretudo o Pará e Roraima. Amapá e o Leste do Amazonas também podem sofrer.
Sampaio observa que o Nordeste enfrentará situações distintas. A região é a única do Brasil que tem três regimes climáticos. Pode haver chuvas mais intensas no Sul da Bahia, algumas precipitações no litoral e seca no Semiárido.
— Anos de El Niño não são bons, e 2024 não será exceção. Temos que ver como outros fatores da atmosfera vão se comportar. Mas a previsão até agora segue sendo de extremos de calor — alerta o cientista.
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