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Quando as flores do jazigo murcharem
Todos os países que adotam o tal do regime democrático, sem exceção, apresentam uma e outra imperfeição e, por essa razão, nos países onde de fato há democracia, a crítica a mesma se faz necessária para que possa-se identificar as suas possíveis deficiências e, mediante debates honestos, podermos procurar caminhos para corrigi-las, pois, é importante nunca esquecermos que a democracia é um ideal áureo, mas nós, seres humaninhos, somos uma triste figura.
Por isso, a crítica justa, e até mesmo a injusta, acabam sendo sempre ferramentas imprescindíveis, não apenas para aperfeiçoarmos os mecanismos políticos e sociais da sociedade, mas também, para que possamos nos aprimorar como cidadãos.
Aliás, um cidadão que acredita estar acima de toda e qualquer crítica, provavelmente, quando meteu o dedo na jarra da vaidade, deve ter se lambuzado dos pés à cabeça, não é mesmo? Claro que é. Da mesma forma que uma figura, que acredita que seus atos estão acima e além de qualquer correção, possivelmente, quando pediu para ser narcisista, deve ter dado um eco danado.
Tendo isso em vista, compreende-se facilmente, que os regimes políticos acabam sendo modelados pelas personalidades deformadas das pessoas que se infiltram em suas entranhas e se assenhoram delas, portando-se feito um hospedeiro danoso, adoecendo as instituições e provocando espasmos em todo corpo social.
Dito de outro modo, apenas ditaduras e tiranias não admitem críticas às suas instituições sagradas. Não admitem porque os seus hospedeiros lesivos ficam nervosos quando suas ações são questionadas, quando suas decisões são colocadas em xeque. Não porque isso, realmente, ameace as instituições, mas sim, porque revelam a realidade das entranhas institucionais que são parasitadas pelos perniciosos vetores como eles.
Infelizmente, os exemplos disso abundam na história da humanidade, tanto à destra quanto à sinistra, da mesma forma que não são poucos os casos que se fazem presentes no mundo atual.
Não são poucos os países que se apresentam como uma democracia, ou com algum nome pomposo similar e, nem por isso, isso garante que em tais países é cultivado o devido respeito à liberdade de expressão.
Não é por acaso que existem inúmeras figurinhas públicas que, praticamente, usam a palavra democracia como se fosse seu sobrenome e, ao mesmo tempo, não medem esforços para calar qualquer um que os contradiga e, fazem isso, para garantir “a ordem democrática”, no entender tiranizador deles.
Em se falando nisso, lembrei-me agora do filósofo espanhol Antonio García-Trevijano Forte, que dedicou a sua vida para explicar a todos, que tivessem olhos para ver e ouvidos para ouvir, que a democracia do seu país não estava se degenerando e, não estava, porque, segundo ele, ela nunca existiu. Teria sido sempre uma farsa.
Detalhe importante: tais críticas não eram feitas por um homem que defendia a instauração de um regime autoritário ou totalitário. Nada disso. Ele era um democrata raiz.
Por isso, imaginemos o seguinte: se García-Trevijano estivesse vivo e, ainda por cima, fosse brasileiro e visse a forma como está estabelecida a democracia brazuca, provavelmente ele iria proferir duríssimas críticas a esse sistema que é apresentado por alguns como sendo “a democracia acima de qualquer suspeita” e, ao fazê-las, como será que ele seria retratado pela grande mídia? Como o referido filósofo seria descrito pelos intelectuais “criticamente críticos” do nosso país? Enfim, como este homem seria encarado pelos supremos guardiões das nossas celestiais instituições?
Pois é. Creio que não é necessário ter uma imaginação muito fértil para vislumbrar o que iria acontecer com o pobre homem, tendo em vista que não são poucos os que advogam em favor da limitação da liberdade de expressão e, todos eles, o fazem pela mesmíssima razão, apesar de terem motivos diferentes.
Enfim, é importante lembrarmos, e jamais esquecermos, que a liberdade está sempre a uma geração da sua aniquilação e, ao que parece, as flores já estão postas sobre o indigente jazigo dela.
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