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A lenda da Baronesa
Em um cemitério de Paris, numa lápide havia um epitáfio: “DULCE FARNESI de SFORZA, Baroneza de Rosenville, fidalga italiana, descendente dos Doges de Veneza. Casada com o nobre francês Barão Julien de Rosenville, senhor do Castello de L’ Etoille. Morreu numa lagoa da região de Pernambuco em terras dos Brasis, 1511.”
Alfredo Brandão, escritor e pesquisador alagoano, procurou desvendar o fato, e numa viagem à Itália, pesquisou sobre a genealogia dos nobres italianos. Depois de exaustivas pesquisas conseguiu reconstituir a história.
“Numa festa em Veneza, o Barão de Rosenville conheceu Dulce. A moça desfilava em uma gôndola, fantasiada de rainha do Adriático. O barão apaixonou-se perdidamente pela beleza, meiguice e bondade da jovem. Nessa época, toda a Europa falava do descobrimento da terra de Santa Cruz. O barão casa-se com Dulce e resolve viajar para a terra recém-descoberta. Por dois anos, habitou no litoral de Pernambuco junto à enorme lagoa Manguaba (Alagoas fazia parte da Capitania de Pernambuco, na época). Ali mandou construir uma casa senhorial – um galpão de madeira em forma de castelo – e junto a este foi edificado um fortim de pedras. O Barão comercializava pau-brasil, fornecendo a madeira aos traficantes, seus conterrâneos, que atracavam a nau no porto dos franceses (hoje praia do Francês). O Barão gostava de caçar durante o dia. À noite, estudava as estrelas, enquanto Dulce bordava. Os marinheiros e os índios tocavam viola e dançavam ao ar livre.
A jovem Baronesa encantou-se com a região. Adorava a Lagoa Manguaba, os passeios de canoa, tudo lhe lembrava Veneza, sua terra natal. A moça era doce como seu nome indicava. Sempre a sorrir, alegre e esvoaçante, gostava de montar em seu cavalo, que trouxera da Bretanha, vestida de amazonas, cabelos esparsos ao vento. Ela lembrava assim uma ninfa dos bosques, uma aparição das florestas, uma iara das lagoas. Os indígenas caetés tornaram-se amigos dos franceses, principalmente do casal.
Um dia, Dulce resolveu improvisar uma festa aquática, idêntica às de Veneza. Convidou os indígenas caetés da região, que compareceram em suas canoas adornadas de flores silvestres. Julien não pôde assistir à festa, tendo que ir à nau de D. Rodrigo D’Acunã, que nesse dia seguia para a Europa com um carregamento de pau-brasil. Foi despedir-se de sua amada, maravilhando-se com o que viu: Dulce pronta para partir para a lagoa, com seu séquito de moças caetés, belíssima, fantasiada de rainha dos índios. Vestia uma túnica branca. Presa à cintura delgada havia uma tanga de penas de arara. Sobre a cabeça, um cocar de plumas alvas. Nas orelhas, dois muyrakitãs de pedras verdes. Um simulacro de tatuagem, com as cores do jenipapo e urucum, de pintinhas azuis e rosadas, o colo alvo e os braços nus. O Barão não resistiu, abraçou-a e beijou-a ali mesmo em frente a todos.
Quando o cortejo da rainha passava em frente à barra, o vento Nordeste soprou rijamente. A maré enchente arrastou as canoas para o meio da lagoa onde se espalhava o encantamento da planta cheia de flores. Súbito, todos gritaram. A canoa da Baronesa afundara e desaparecera no turbilhão das águas e das plantas.
Quando o Barão soube da tragédia, louco de dor, auxiliado pelos seus marinheiros e os indígenas caetés, procurou o corpo da Baronesa durante o resto da tarde e durante toda a noite. Pelo amanhecer, viram no meio da lagoa um ajuntamento de flores alvas, pintadas de roxo e azul, tal qual Dulce se tatuara. Os índios mergulharam e, logo depois, trouxeram à tona a sua Baronesa, morta, muito pálida, mas muito bela ainda. O Barão, em sua dor, regressou à Europa, onde enterrou o corpo da amada em Paris. Triste e solitário, terminou seus dias no castelo de L’ Etoille. Os índios caetés, a partir desse acontecimento, deram à flor o nome de baronesa.”
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