Uma ligação recebida em 2020, na pandemia, pegou Claudia Raia de surpresa. Do outro lado da linha estava Tarsilinha, museóloga que é sobrinha-neta de Tarsila do Amaral (1886-1973), com uma proposta irresistível: ela e os outros herdeiros da pintora, um dos maiores nomes do Modernismo na América Latina, desejavam que a atriz, e somente ela, levasse a vida e a obra da artista plástica aos palcos.

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—Tarsilinha disse que achava que eu tinha a força da Tarsila — relembra Claudia, também produtora do espetáculo.

Assim nasceu “Tarsila, a brasileira”, musical que faz neste fim de semana uma curtíssima temporada no Vivo Rio, após quatro meses em cartaz em São Paulo, mostrando ao público um lado B da pintora que vai além da imagem de musa do Modernismo.

Em cena, um elenco de 23 atores, incluindo Jarbas Homem de Mello, marido de Claudia, conta a história de Tarsila do Amaral, passando por momentos emblemáticos de sua trajetória profissional — como a fundação do Grupo dos Cinco (com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia), o movimento antropofágico e a criação do quadro “Abaporu” (1928) — e por outros tantos de sua vida pessoal, como o conturbado casamento com Oswald (1890-1954) e as cartas trocadas com o médium Chico Xavier (1910-2002) após a morte da única filha, Dulce, em 1966.

Para fazer tudo isso acontecer, coube a Claudia a missão de encontrar diretor, atores, compositores e amarrar o projeto — tarefa com a qual a atriz, produtora desde os 19 anos, está habituada.

— Gosto tanto de produzir quanto de atuar. Me dá mais liberdade e tenho controle da qualidade artística — pondera.

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Gestação dupla

Foram necessários quase três anos para colocar a peça de pé. No meio do caminho, veio a gravidez do terceiro filho de Claudia, aos 55 anos. Luca nasceu em fevereiro de 2023. Onze meses depois, o espetáculo estreou. Desde então, por trás das cortinas, a atriz divide com o marido os cuidados com o bebê, hoje com 1 ano e 3 meses.

— A gente equilibra os pratinhos! Mas o Luca é uma criança facinha. Ele vai ao teatro, fica quietinho, toma banho lá e até janta com a gente. Acabamos fazendo um espaço de brinquedos no meu camarim. Filho de artista é criado em coxia. Foi assim com o Enzo e a Sofia (de 27 e 21 anos, respectivamente), e será com ele também — garante.

No tablado, Jarbas é Oswald de Andrade, o que, para a atriz, permite um gracejo que confunde o público:

—Eles ficam sem saber o que é verdade e o que é mentira por sermos um casal na vida real. A gente se diverte! Nisso, acho que somos parecidos com a Tarsila e o Oswald, pois um potencializava o trabalho do outro. É o que acontece com a gente!

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Aos 57, Claudia afirma que a maturidade foi fundamental para encarar um personagem denso como Tarsila.

— É um trabalho bem diferente de tudo que já fiz. Quando você tem muitos anos de carreira, procura alguma coisa para se reinventar. E ganhei uma (personagem) que era o oposto de mim. Foi uma escola —reflete a atriz, que se diz surpresa com a repercussão do musical: — No intervalo, as pessoas pesquisam as obras de Tarsila e Anita Malfatti, sobre o que o Oswald de Andrade escreveu... É muito bonito a plateia envolvida numa história que fala sobre parte da identidade artística do país.

'Tarsila, a brasileira'

Onde: Vivo Rio. Av. Infante Dom Henrique 85, Parque do Flamengo. Quando: Sex, às 21h. Sáb, às 17h e às 21h. Dom, às 16h e às 20h. Únicas apresentações. Quanto: De R$ 50 (frisa) a R$ 320 (setor premium). Classificação: Livre.