Variedades

Amiga de Ilva Niño lembra últimos dias da atriz e conta: 'Ela não via a hora de voltar a trabalhar'

A atuação mais recente foi no humorístico televisivo 'Os Roni', com Titina Medeiros, Whindersson Nunes, Carlinhos Maia e Tirullipa

Agência O Globo - 12/06/2024
Amiga de Ilva Niño lembra últimos dias da atriz e conta: 'Ela não via a hora de voltar a trabalhar'
Amiga de Ilva Niño lembra últimos dias da atriz e conta: 'Ela não via a hora de voltar a trabalhar' - Foto: Reprodução/internet

"Não vejo a hora de sair daqui e voltar a trabalhar". Essa foi uma das últimas frases de Ilva Niño, quando estava no hospital, dita para a amiga de longa data Marcia Valença. A atriz morreu na manhã desta quarta-feira, aos 90 anos, no Rio de Janeiro. Ela estava internada no Hospital Quali, em Ipanema, na Zona Sul da capital, desde o último dia 13 de maio.

Histórico de saúde: atriz Ilva Niño, que morreu aos 89 anos, superou diagnóstico de que teria pouco tempo de vida

— Ilva tinha uma vida muito tranquila. Morava sozinha em Copacabana, com autonomia e lucidez. Gostava de fazer a própria comida, de criar enfeites para a casa na época de Natal e Ano Novo — relata Marcia, que também é gestora do Niño de Artes Luiz Mendonça, espaço cultural criado por Ilva 2003, na Lapa, região central do Rio.

Ao EXTRA, a unidade de saúde em que a atriz veterana estava internada lamentou a perda e informou que "a morte aconteceu em decorrência de complicações respiratórias, digestivas e renais, culminando com a falência múltipla de órgãos". O velório acontece nesta quinta-feira (13), às 16h, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, e será aberto ao público.

Divergências: herdeiros de Anderson Leonardo proíbem integrantes do Molejo de usarem nome da banda

Ilva se destacou em "Roque Santeiro" (1985), quando interpretou Mina, a empregada confidente da Viúva Porcina (Regina Duarte). Em sua carreira, também participou de outras produções, como "Cheias de charme" (2012) e "Alma gêmea" (2005), exibidas atualmente nas tardes da Globo.

Amigos e parentes a descrevem como alguém que "gostava de receber amigos e de viajar". A última viagem de Ilva foi para Pernambuco, sua terra natal, há cerca de dois meses.

— Ela esteve em abril deste ano em Nova Jerusalém (teatro a céu aberto em Pernambuco) para assistir à Paixão de Cristo, de que participou na juventude interpretando a Boa Samaritana — conta Marcia.

Nascida em Floresta, em Pernambuco, Ilva Niño participou do Movimento de Cultura Popular, no início da década de 1960, e comentou sobre a época ao "Memória Globo", quando falou de sua trajetória: “A gente fazia um trabalho maravilhoso dentro dos engenhos. Íamos preparando os camponeses para receber o trabalho de alfabetização que vinha de Paulo Freire. O teatro abre essa facilidade de comunicação”.

Na Globo, a atriz começou no elenco de "Verão vermelho" (1969), e depois seguiu fazendo outras novelas. Sobre o sucesso de sua Mina, de "Roque Santeiro", a atriz comentou: "Uma pontinha de nada em 'Roque Santeiro', e a Mina não morreu nunca, até hoje todo mundo grita pela Mina na rua. Foi um grande sucesso, merecidamente um grande sucesso".

Ilva tem no currículo ainda papéis em produções como "O outro" (1987), "Bebê a bordo" (1988), "Sexo dos anjos" (1989), "Pedra sobre pedra" (1992), "Tropicaliente" (1994), "Senhora do destino" (2004), "Terra nostra" (1999) e "Sete pecados" (2007), entre tantos outros trabalhos.

Em 2017, um documentário sobre Ilva começou a ser produzido pelo cineasta Gregório Albuquerque. A obra rodou o mundo e ganhou prêmios nacionais e internacionais. O longa apresenta ao público a atriz que foi uma incansável guardiã do teatro popular nordestino. Com o seu trabalho nos últimos 30 anos, seja na educação de jovens, na atuação em seu próprio teatro, na TV ou no cinema, Ilva deu voz, por centenas de vezes, à realidade das mulheres das classes populares.

Perto de completar 84 anos de vida, em 2017, Ilva Niño retornou à cidade de Recife, depois de mais de cinco décadas longe do local onde passou boa parte da sua juventude, para encenar uma peça escrita pelo seu filho, Luiz Carlos Niño (1965-2005). Esse espetáculo aconteceu no teatro pernambucano que leva o nome de seu companheiro, Luiz Mendonça (1931-1995).