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Um estrondoso silêncio
A vida é um dom e, o ventre materno, seu santuário. Por isso, toda vez que ocorre uma fecundação, a herança de um pai e de uma mãe são reordenados numa singular união alquímica, onde a presença total de toda a história da humanidade, e de todo o devir cósmico, se fazem presentes.
Nesse sentido, podemos dizer que no ato da concepção, temos um momento, tal qual a criação primordial, onde tudo converge para que ocorra o milagre da vida.
Vislumbrar a gestação de uma vida por esse prisma, além de ser uma imagem magnífica, nos dá uma clara noção do quão precioso é cada indivíduo humano.
Sim, diante do universo somos apenas um reles grãozinho de poeira cósmica. Só isso e olhe lá. Porém, cada um de nós é uma alma imortal e, enquanto tal, fomos feitos para a eternidade. Ou seja, perante os olhares judiciosos desse mundo, temos pouco ou nenhum valor; porém, diante da eternidade, cada vida é uma joia de valor inestimável.
O universo um dia findará; as almas, jamais.
A respeito disso, do valor da vida, estava a alguns anos atrás conversando com um amigo. Ele contava-me uma história a respeito de uma amiga que, certa vez havia lhe dito que, quando via um rapaz, com seus 21 anos de idade, dizia para si mesma: “meu filho teria essa idade hoje se eu não o tivesse abortado”.
Perguntava-se o que ele poderia estar fazendo da vida, se estaria fazendo faculdade, se seria boêmio, desportista, enfim, perguntas que ela fazia, sabendo que nunca teria uma resposta.
Na época, escrevi uma crônica sobre essa história e, ao publicá-la, uma amiga a leu e veio até mim para me dizer que aquela história havia tocado profundamente o seu coração porque, em sua juventude, ela teria feito o mesmo; e aquilo doía muito, mesmo depois de tantos anos.
Olhei bem para ela, nos seus olhos prestes a transbordar, e disse-lhe que entendia muito bem a dor dela e da personagem da crônica, porque estávamos no mesmo barco.
Então nos abraçamos, cortamos o tropel de lágrimas e conversamos um pouco. Ao final, ela disse que gostaria, um dia desses, de surpresa, interromper uma dessas palestras sobre aborto e dar um testemunho a respeito do que significa realmente fazê-lo e o que é carregar, silente, esse fardo junto do peito.
Noutra ocasião, um outro amigo, que fora acadêmico de medicina, contou-me que foi com seus colegas assistir a uma palestra onde era apresentada uma senhora que teve, se não me engano, três filhos; e ela os teve muito jovem. Quando abriram o microfone para as perguntas, ele foi o primeiro.
Sem rodeios, perguntou: você, em algum momento, se arrependeu de ter tido seus filhos? Sem pestanejar, a senhora respondeu: jamais! E disse que seus filhos fizeram dela uma pessoa melhor, que as dificuldades foram e são muitas, mas o amor é maior e nos transforma.
Transforma porque toda a criação está se refazendo em uma criaturinha que está em nossos braços, sorrindo para o mundo e olhando para a eternidade.
Agora, se meu amigo perguntasse, para as mulheres e homens, que perderam seus filhos num momento de confusão, medo e desespero, que os levou ao frio corredor do aborto, se eles se arrependem do que foi feito, a resposta será, invariavelmente, um estrondoso silêncio, seguindo de um doloroso gemido, de uma alma consciente de ter negado o dom mais precioso que há para um pequenino e indefeso inocente.
Digam e decidam o que quiserem, mas essa é uma dor que dilacera e não cessa.
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