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Estrela não binária de série da Globoplay relata preconceito por usar pronome neutro: 'Tentam nos expor ao ridículo'

Ayo Faria participa de obra que estreia nesta sexta-feira, Dia do Orgulho LGBTQIA+, na plataforma da Globo

Agência O Globo - 28/06/2024
Estrela não binária de série da Globoplay relata preconceito por usar pronome neutro: 'Tentam nos expor ao ridículo'

No Dia do Orgulho LGBTQIA+, celebrado nesta sexta-feira (28), o Globoplay lança "Segura essa pose", série em que mistura documentário e reality show produzido pela plataforma. A obra detalha na cena ballroom (movimento de inclusão, identificação e expressão da comunidade LGBTQIAPN+) do Rio, trazendo um olhar profundo sobre uma cultura que está em crescimento. Uma das estrelas da atração, Ayo Faria, que se considera uma pessoa não binária (identidade de gênero que não se encaixa exclusivamente nas categorias tradicionais de masculino ou feminino), celebra o Dia do Orgulho e seu novo trabalho.

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— A importância é a representatividade, a historicidade de várias lutas, principalmente de pessoas trans e pretas que tomaram à frente desta construção e desta luta para todas as pessoas LGBTQIAPN+ do mundo. É um momento de representatividade, é um sentimento de conquista e de muitos desafios que precisamos alcançar, de muitas coisas que ainda precisamos conseguir para ter a manutenção e o bem-estar da comunidade e principalmente, racializada, no Rio de Janeiro — conta a atriz, que aparece no quarto episódio da série.

Ao se entender como pessoa não binária, Ayo enfrentou resistência da família. A atriz afirma que até hoje os parentes sentem dificuldade para entender sua identidade.

— É um processo que estou vivendo até hoje, não existe início, meio e fim. Acredito que a construção é diária, essa construção não termina. Em relação ao apoio em casa, a minha família ainda não consegue entender o que é ser uma pessoa não binária, o que é ser uma pessoa trans, o que é ser o que eu sou. Mas sinto que também rola uma tentativa de compreensão para com o meu corpo, em meio a isso tudo, e isso é muito importante. Minha mãe e irmãs me apoiam. Meu pai não sabe o que é isso, porque, muitas letras da sigla acabam não chegando para pessoas de várias idades e culturas, mas, no geral, a minha família tenta entender — afirma a artista de 30 anos.

Atriz não binária revela comentários ouvidos pela mãe por causa de sua identidade de gênero

Ayo, que prefere usar pronome neutro, embora se apresente como atriz nas redes sociais, também conta que já ouviu comentários sobre o modo em que gosta de ser chamada: — Eu sou uma pessoa não binárie, e uso pronomes neutros. Às vezes tiram sarro de nossos pronomes, existência, por não conseguirmos nos adequar a essa norma, por nosso corpo não conseguir viver a cisgeneridade, não se adequar. Zombam como nos tratamos. Muitas pessoas falam que estamos querendo banalizar e confundir a luta, que queremos inventar algo que não existe. E a cisgeneridade fala que mulher é mulher, que homem é homem, e que não tem como ser todes, que boyceta não existe, entre outras siglas da não binaridade que as pessoas acabam querendo zombar.

Ayo ainda completa: — As pessoas querem zombar do gênero fluido, de pessoas agêneres. Tudo aquilo que não se adequa à norma da cisgeneridade, querem zombar, porque elas já perceberam que não vai rolar tentar nos parar, então elas tentam nos expor ao ridículo. Muitas vezes pararam minha mãe para perguntar “seu filho é o quê, sua filha é o quê? É uma travesti? É um homem?”. Porque o meu corpo é tão não binário que não consegue alcançar a binaridade de jeito nenhum. O tempo inteiro eu tenho medo, mas eu sigo tendo orgulho e coragem para ser o que eu sou.

Em sete episódios, "Segura essa pose" mescla os bailes, as premiações e as competições com a rotina dos jovens, reiterando a importância das houses - ou casas - como espaços de liberdade e pertencimento. Produzida pela Maria Farinha Filmes, o Original Globoplay “Segura essa pose” é criada por Lucas Fonseca, Lucas Fratini e Sandro Lima, e tem direção de Sandro Lima e Chica Andrade.