Na adolescência, Diogo Verardi se achava fisicamente parecido com o ator Erik Marmo. E tinha o sonho de um dia também se tornar galã de novela, como o intérprete de Cláudio, par de Edwiges (Carolina Dieckmann), em “Mulheres apaixonadas” (2003), de Manoel Carlos.

— Hoje em dia, eu não tenho mais tanto essa pretensão. As pessoas perguntam se sou o Gregório Duvivier (risos). Estou mais para o núcleo cômico, e bem feliz — conta o ator, de 30 anos, sucesso na internet com o perfil “Malhassaum”, que é agenciado pela Play9 e soma 210 mil seguidores no Instagram e 113 mil no TikTok.

Gaúcho de Porto Alegre, ele adotou o Rio como cidade para morar e trabalhar, faz três anos, e o nome artístico Dig “porque é mais simples, mais fácil de decorar e traz mais proximidade; Diogo é muito sério”.

— Vim pra cá com esse objetivo de ser ator na Hollywood Brasileira. Morei no Bairro Peixoto, tentei, não deu, teve a pandemia e eu acabei voltando pro Sul. Aí, no ano passado, com a viralização dos vídeos que faço, consegui voltar a viver aqui, agora em Laranjeiras — conta ele: — A internet é a minha principal fonte de renda. É um novo jeito de a classe artística se sustentar e viver dignamente. Atuo, escrevo roteiros e produzo, só que da maneira que eu posso, com o meu celular e as minhas ideias.

Na página do Instagram “Malhassaum”, inicialmente inspirada na novela teen da TV Globo, Dig e a atriz Fernanda Fuchs — que mora em Curitiba — interpretam esquetes diversos, a maioria satirizando jovens cariocas de classe média, chamados “lebloners”, “lemers”, “laranjeirers”...

— Tem uns privilegiados que merecem alfinetadas. São quem a gente procura cutucar, até para terem uma autopercepção — explica ele, afirmando que não faz piada com minorias: — O humor passa pela transformação, né? Se a gente for bater em quem já está ferrado, não tem graça. Eu, enquanto homem gay, já sofri tanta homofobia e já ouvi tantas piadas sem graça... É hora de dar uma vingadinha (risos).

Com o primo, o ator e músico Thomaz Verardi, Dig adaptou a dramaturgia da rede social para os palcos: a peça “Uma comédia irreverente” terá única apresentação no Teatro Miguel Falabella, em Del Castilho, na próxima quinta-feira (dia 1).

— Já rodamos vários teatros da Zona Sul do Rio, e será nossa primeira vez na Zona Norte. Estou doido pra ver como vai ser a recepção dessa galera, que também sabe rir de si mesma. Já gravamos vídeo na Tijuca. Quando me encontram pela cidade, os cariocas me perguntam quando vou falar sobre os bairros delas — diz ele, satisfeito.

Thomaz explica como a apresentação teatral foi construída:

— É uma sátira cômica e musical, que de uma forma divertida critica alguns padrões de comportamento da sociedade. A peça amplia os esquetes da página "Malhassaum": os números têm mais tempo, cinco minutos cada. E a gente vai intercalando os personagens com músicas autorais e um pouco de stand up comedy também, partindo da nossa experiência como artistas que vieram de Porto Alegre pro Rio na busca de expandir nosso trabalho. Apesar de engraçada, "Uma comédia irreverente" também é bem sensível, porque tem momentos de emoção quando falamos de nossa vida pessoal e da nossa família.

A cara do Rio, pelos olhos do gaúcho

Del Castilho: “Parque de diversões do shopping”

Tijuca: “Boteco com stand up comedy”

Méier: “Vai que cola”

Bairro Peixoto: “Tia com cachorro na praça”

Leme: “Praia e plantas”

Urca: “Bondinho”

Ipanema: “Gays no Posto 9”

Leblon: “Amizade com os porteiros”

Barra da Tijuca: “Carros e avenidas”

Curicica: “Projac”

Santa Teresa: “Camisas floridas de brechó”

Lapa: “Em qual Ximeninho você está?”

Praça São Salvador: “Apuração das eleições regada a cerveja artesanal”

Pedra do Sal: “Samba na segunda-feira”

Rua Arnaldo Quintela, em Botafogo: “Não vá de calça skinny e sapatênis, pois vão te julgar”

UMA COMÉDIA IRREVERENTE Teatro Miguel Falabella (Norte Shopping): Av. Dom Hélder Câmara 5.474, Del Castilho. Única apresentação em 1º de agosto (quinta-feira), às 20h. Ingressos: a partir de R$ 35 (meia-entrada), pelo Sympla. 60 minutos. Classificação: 16 anos.