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Verônica não cobrou
Jaraguá - antigo bairro boêmio
Nos tempos dos cabarés morava em Maceió um rapaz alegre chamado João de Andrade Lima, mas conhecido por Joãozinho Amoroso. Amante da boemia e do carnaval. Certa vez, em ensaio noturno do Bloco Cavaleiro dos Montes que arrastava foliões cantando e dançando pela Avenida da Paz. Joãozinho, feliz da vida, agarrado à uma bela jovem que conhecera no bloco àquela noite, dançava o frevo com maestria. O bloco tomou rumo ao bairro boêmio de Jaraguá.
Ao passar pelo corredor de cabarés, a bela acompanhante de Joãozinho se identificou, Verônica, “inquilina” da Boate Alhambra, fazia a vida naquele casarão, convidou-o a subir. Entre surpreso e alegre, prontamente galgou as íngremes escadas do lupanar. De paquera sentiu-se namorado, mesmo sem dinheiro, foi para o quarto com a Verônica.
Depois do amor, a jovem rapariga cobrou pelos competentes serviços. Joãozinho confessou, não tinha dinheiro, pensava ser de graça. Verônica ficou braba, ele tratasse de arranjar o pagamento, pegou calça, cueca, camisa e sapato de Joãozinho e entregou ao Leão de Chácara (segurança) da Alhambra, só devolvesse quando ele pagasse. E foi se arrumar para o trabalho da noitada.
Joãozinho não teve o que pensar, nu, abriu a porta do quarto, desceu as escadas aos pulos, a rapariga gritava: “Xexeiro, Xexeiro...” Eram nove horas da noite, a Boate Alhambra começava a lotar de frequentadores.
O Leão de Chácara não conseguiu alcançar Joãozinho, um excelente atleta, exímio jogador de futebol. Sua nudez foi notada pelos passantes, olhavam incrédulos. Joãozinho continuou correndo pela rua Sá e Albuquerque até desembocar na Avenida da Paz. Teve uma surpresa, não podia continuar caminhando nu, na calçada em cada casa havia cadeiras formando rodas das família conversando, um costume na cidade naquela época, antes da televisão aparecer.
João escondeu-se atrás do primeiro poste do calçadão da Avenida da Paz. Olhou em frente, meninos brincavam, jovens namoravam nos bancos, a Avenida da Paz, à noite, era uma festa. Joãozinho não encontrou outra solução, correu em direção à praia iluminada pela Lua cheia. Correu na areia fofa, branca, fria, até encontrar solo de areia dura, molhada, beira mar, onde alguns jovens jogavam futebol sob o luar. Ao se aproximar devagar, a meninada percebeu, ouviu-se a gritaria: “Um homem nu! Um homem nu!”. Imediatamente Joãozinho correu, mergulhou no mar, água tépida, deliciosa, era noite de verão.
Nosso herói ficou por muito tempo curtindo gostoso banho de mar noturno, deixava o corpo nu ser levado pelas pequenas ondas, não havia pressa. Naquele momento, olhando pro céu prateado pela Lua cheia, deslumbrou uma cintilante estrela, sentiu-se dono do mundo, do universo, poeta, seresteiro, no seu encantamento, começou a cantar para o infinito: “A estrela Dalva... no céu desponta... e a lua anda tonta... com tamanho esplendor... as pastorinhas pra consolo da lua... vão cantando na rua... lindos versos de amor...”
Por volta da dez horas da noite, depois de tomar a fresca, as famílias recolheram-se, os jovens cansados das brincadeiras foram dormir, os namorados, depois do xumbrego, excitados, se auto aliviariam depois. Joãozinho esperou mais um pouco. Eram onze horas, apenas alguns boêmios passavam em direção às boates de Jaraguá, dar expansão aos instintos e fantasias.
Afinal nosso herói saiu do mar, corpo molhado, dedos engelhados. Sentiu o vento, tremia de frio. Andou, correu, pulou, recuperou-se. Caminhou pela praia. Retornou às calçadas na Praça Sinimbu, pouca gente na rua. Correndo de poste em poste, Joãozinho, nu, conseguiu chegar em sua casa na Rua da Alegria. Ao abrir a porta da casa, recebeu a devida descompostura do pai que no fundo se orgulhava em ter aquele filho boêmio, cheio de histórias e picardias. No dia seguinte, o pai deu-lhe o dinheiro, não queria filho desonesto, xexeiro, a moça merecia o pagamento. À tarde, Joãozinho resgatou suas roupas, seu sapato de coro de jacaré. Contou à Verônica sua aventura noturna, ela caiu às gargalhadas, amaram-se novamente no quarto. Dessa vez Verônica não cobrou.
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