Política

Primeiro debate em SP: Boulos, Datena, Marçal e Tabata elegem atual prefeito principal alvo

Estratégias miram eventuais irregularidades da gestão de Ricardo Nunes e sua proximidade com Bolsonaro; apoiado por Lula, candidato do PSOL também não deve escapar de críticas

Agência O Globo - 06/08/2024
Primeiro debate em SP: Boulos, Datena, Marçal e Tabata elegem atual prefeito principal alvo
- Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Os cinco candidatos à prefeitura de São Paulo mais bem colocados nas últimas pesquisas de opinião estreiam o primeiro debate paulista na próxima quinta-feira (8), na Band, a partir das 22h30. Entre eles, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) devem ser os mais visados pelos adversários, mas há expectativa sobre o possível embate entre os ex-aliados José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) e a atuação do “franco-atirador” Pablo Marçal (PRTB).

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Serão três blocos envolvendo confrontos diretos entre os candidatos, perguntas de jornalistas da emissora e duração prevista de 1h30. Levantamento divulgado pela Quaest na semana passada mostra um empate triplo entre Nunes (20%), Boulos (19%) e Datena (19%), com Marçal em seguida (12%) e Tabata numericamente em quinto lugar (5%).

O direcionamento das críticas preocupa a campanha de Nunes. A avaliação é que opositores, principalmente Datena e Marçal, não têm “nada a perder” na eleição deste ano e podem investir em pautas diversionistas para ganhar visibilidade. Durante a convenção realizada pelo PRTB no domingo, Marçal disse que revelará no debate dois candidatos que “cheiram cocaína” — sem, no entanto, apresentar prova alguma:

— Tem que mostrar o ‘papelzinho’, o ‘prontuariozinho’. Tá na minha mão. Nós vamos mostrar para todo mundo, já fica o aviso — declarou o ex-coach.

A estratégia de Nunes, não apenas em debates, mas na campanha eleitoral como um todo, é focar na cidade e nas entregas da gestão. Auxiliares entendem que nenhum outro candidato conhece tanto São Paulo e trata com propriedade os assuntos, com ações concretas para mostrar ao público. Alguns dos temas que devem ganhar destaque são a tarifa zero nos ônibus aos domingos, a faixa azul para motos, a construção de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e o programa de moradia Pode Entrar, além da boa situação orçamentária da cidade.

Se necessário partir para o ataque, o prefeito deve procurar Boulos, como já tem feito durante toda a pré-campanha. Resta saber em que termos. Em convenção do PL, Nunes chamou o adversário de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”, o que rendeu ao político uma ação na Justiça cobrando uma retratação pública e a publicação do currículo Lattes do psolista. O pedido foi negado na última sexta-feira, sem julgamento do mérito. O entorno de Nunes prefere um segundo turno contra Boulos, já que nesse cenário o atual prefeito teria mais votos, segundo pesquisas.

Nunes tem sido alvo de todos os outros adversários, mas o contrário nem sempre ocorre. Com relação a Marçal, ele tem evitado ataques diretos por entender que o eleitorado do influenciador migraria para ele em um eventual segundo turno.

Boulos, por sua vez, deve seguir com a estratégia que adota há meses de concentrar seus ataques a Nunes, focando tanto no que considera como problemas de sua gestão quanto no recente inquérito da Polícia Federal (PF) que apontou indícios de envolvimento do emedebista com um esquema de desvio de verbas em creches conveniadas. Outra tática é relacionar Nunes a Jair Bolsonaro (PL), especialmente no que tange às investigações que pesam sobre o ex-presidente no caso das joias e tentativa de golpe.

A campanha de Boulos vê nos debates de TV uma oportunidade para conversar com outros públicos e romper com a pecha de "radical" atribuída por oponentes, e trazer "propostas consolidadas" como "Poupatempo da Saúde" e o "Mutirão Paulo Freire" contra o analfabetismo.

Pesa a favor de Datena o fato de que o primeiro debate será “em casa” para ele, que até o fim de junho apresentava o “Brasil Urgente” na emissora, mas se afastou justamente para focar na empreitada política.

Apesar de o tucano dar sinais de que pretende mirar em Nunes na pauta da segurança pública, acusando o prefeito de ser conivente com a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em serviços contratados pela administração, como o transporte público, a campanha nega que a intenção seja ganhar terreno especificamente contra o prefeito. O apresentador diz procurar o apoio de eleitores tanto de Lula quanto de Bolsonaro e já chamou Boulos e Nunes de “marionetes” de seus padrinhos políticos.

Datena apareceu empatado tecnicamente na liderança com Nunes e Boulos na pesquisa Genial/Quaest, o que pode fazer com que seja mais visado, principalmente por opositores do segundo pelotão da disputa. Para os líderes, a iniciativa é mais arriscada porque pode significar perda de um apoio relevante em um eventual segundo turno. Esse tipo de cenário também favorece “dobradinhas” para desgastar um dos adversários.

O debate também colocará Datena frente a frente com Tabata Amaral, de quem era aliado até abril. Tabata desistiu oficialmente do acordo ontem, ao anunciar como número dois da chapa a professora e empresária Lúcia França (PSB), mulher de Márcio França, ex-governador do Estado e atual ministro do Empreendedorismo. A interlocutores, Tabata já admitiu que se considera traída por Datena, e nesta segunda (5) disse durante sabatina realizada pelo g1 que “traições são comuns, que as pessoas dão a palavra e as palavras são jogadas ao vento”.

Marçal tem adotado o discurso de que Boulos é um “apoiador de rachadinha”, em alusão ao processo relatado pelo deputado no Conselho de Ética na Câmara que inocentou André Janones. O empresário esteve em Brasília na sessão que decidiu o destino do deputado do Avante, que faz parte da base de Lula no Congresso.

A respeito de Nunes, a estratégia de Marçal é pintá-lo como um político não merecedor do voto do eleitorado bolsonarista, a despeito do ex-presidente participar ativamente da campanha de reeleição do prefeito. Com Tabata, já se envolveu em polêmicas a respeito do suicídio do pai da deputada, insinuando em entrevistas que ela teve culpa por estar estudando fora do País. O único poupado até agora é Datena: na convenção partidária, Marçal alegou que os dois “conversam direto” e que o apresentador “está de parabéns”.