Há quem tenha a sorte de encontrar vizinhos que se tornam quase membros da família. Esta, definitivamente, não é uma realidade no condomínio Barra Star Dream, cenário da segunda temporada de " Os outros". Na série, o incômodo pela presença do ex-policial e agora vereador Sérgio, personagem de Eduardo Sterblitch, é constante. A índole controversa do miliciano foi evidenciada na primeira temporada da produção, quando ele não economizou ações com requintes de crueldade. Na nova leva de episódios, disponibilizados no Globoplay toda quinta-feira, o cara surge diferente.

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— Eu tinha certeza de que ele era um personagem que não ia passar de muitos episódios. Uma pessoa muito má assim acaba rápido. Todo mundo já tinha entendido o caráter dele na primeira temporada, mas agora buscamos que o público goste do Sérgio, mesmo não concordando com suas atitudes. Eu não queria fazer ele mau o tempo inteiro — diz o ator de 37 anos.

Ele segue com a arma na cintura, só que agora frequenta a Câmara Municipal. Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.

— Me inspirei em todos os políticos. Tem uns malvados, uns bonzinhos e os muito perfeitos. Esses me dão raiva. O carisma dos políticos cariocas... Um monte de governantes que acaba com a nossa vida por anos e a gente continua votando neles. Por quê? Porque nós os amamos. Eu não tenho nada do Sérgio. Não queria ser bandido, mas queria ser livre como ele. Figuras como o Sérgio, sem pudores, são mais livres — analisa.

O trabalho em “Os outros’’ coloca Sterblitch em outro patamar da carreira, depois de uma trajetória marcada por personagens ligados ao humor, como o Freddie Mercury Prateado, do “Pânico na TV’’:

— Eu sabia que Sérgio me daria prestígio na classe artística, mas ele também se tornou popular. Adoro surpreender o público. É como alguém que você está paquerando e não te dá mole, mas você quer conquistar.

O ator assume estar mais confiante em si, mas as incertezas permanecem.

— Um astrólogo me disse que em 2027 vou parar de ter a sensação de estar correndo atrás e vou me sentir mais estabelecido. Como não acredito 100% nele, torço para que tenha razão. Tenho muitos colegas acomodados e se repetindo. Os artistas em que mais me inspiro são os que morreram sem saber que eram bons. Minha onda é não perder a curiosidade, não saber o que quero escolher — resume.

Eduardo Sterblitch: pai próspero e ansioso no combate à depressão

Além de estar no ar em “Os outros’’, o ator logo logo começa a gravar “A garota do momento’’, nova novela das seis, e ainda lançará a peça “Uma babá quase perfeita’’ (inspirada em filme homônimo, em outubro) e o longa “O auto da compadecida 2’’ (em dezembro). Para completar, ainda tem um novo programa de humor com Tatá Werneck, em 2025. Sterblitch brinca que o sucesso no trabalho pode ter ligação com a paternidade.

— Falam que, quando você se torna pai ou mãe, as coisas começam a prosperar. Estou muito atento a isso, tanto que até fiz seguro de vida no mês passado. Não sei se sou um bom pai, mas sou parceiro. O Caetano pode contar comigo pra tudo. Tenho aprendido que meu filho é muito sagaz. Tenho voltado no tempo e me vejo nele. Sou bastante ansioso e observador, então preciso ter calma para não querer tanto dele ainda — avalia o pai do garotinho de 1 ano e meio, fruto de seu casamento com Louise D’Tuani.

A questão da ansiedade, inclusive, é algo que o ator tenta controlar para não recair na depressão, doença que enfrentou na infância.

— Além do trabalho me ajudar, faço terapia. Tive depressão quando era criança, isso não foi tratado e só descobri depois de adulto. É difícil tomar um remédio que vai me deixar bem mesmo sabendo que não está tudo bem. A criatividade precisa do caos. Estou deprimido em relação à sociedade, já que não vejo mais saída.