Política

Tarcísio Motta diz que Lula apoia Paes para 'cumprir acordo', e compara Ramagem a Crivella

Em sabatina na GloboNews, candidato pelo PSOL reivindica apoio de eleitores do PT e sugere corte de cargos comissionados na prefeitura do Rio

Agência O Globo - 27/08/2024
Tarcísio Motta diz que Lula apoia Paes para 'cumprir acordo', e compara Ramagem a Crivella

Candidato à prefeitura do Rio pelo PSOL, o deputado federal Tarcísio Motta afirmou, em sabatina nesta segunda-feira na GloboNews, que o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao atual prefeito Eduardo Paes (PSD) é "para cumprir acordo", mas reivindicou para si o voto do eleitorado petista na eleição carioca.

Tarcísio também direcionou críticas no candidato bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) e o comparou ao ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que encerrou sua gestão com má avaliação em 2020 após se atrelar ao então presidente Jair Bolsonaro na tentativa de se reeleger, sem sucesso.

Questionado sobre o apoio de Lula a seu adversário, embora o PSOL também faça parte da base do governo petista na Câmara dos Deputados, Tarcísio alegou que não está "contra" o atual presidente, e que espera atrair o voto da esquerda a despeito da aliança do PT com Paes. Na avaliação de Tarcísio, esta aliança se deve a um acordo costurado ainda na eleição de 2022, quando Paes se juntou à campanha de Lula no segundo turno. O psolista argumentou, por outro lado, que tem levado mais o nome de Lula para a campanha do que o atual prefeito.

-- Lula está cumprindo acordo e a gente respeita. Mas eu quero saber de quem votou no Lula (em 2022) onde é que vai votar (em 2024). Preciso me diferenciar do Eduardo Paes para dialogar com o eleitor do Lula. Na prática, Eduardo Paes está querendo esconder o Lula -- afirmou Tarcísio.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, o candidato do PSOL apareceu com 7% das intenções de voto, em situação de empate técnico com Ramagem, que tem 9%. Paes, por sua vez, figurou com 56%, em uma situação que lhe daria, hoje, a reeleição em primeiro turno.

Apesar de criticar a gestão de Paes em áreas como mobilidade urbana, saúde e educação, o candidato do PSOL afirmou durante a sabatina que a tarefa mais importante desta eleição é "derrotar a extrema-direita", que associou à candidatura de Ramagem. Tarcísio comparou ainda o candidato do PL ao atual governador Cláudio Castro (PL) e ao ex-governador Wilson Witzel, ambos eleitos como apoiadores de Bolsonaro -- e que também já rivalizaram com Paes.

-- Ramagem é Crivella, é Cláudio Castro, é Witzel. A extrema-direita precisa ser derrotada, nossa tarefa é essa. Paes é um prefeito de três mandatos. É natural que, ao avaliar as políticas públicas, a gente diga o que quer mudar depois de três gestões desse prefeito. Mas é preciso deixar muito claro que o Ramagem é um perigo, porque seria o retorno do bolsonarismo à prefeitura do Rio de Janeiro. Paes voltou ao poder porque Crivella foi um desastre e a esquerda estava divida (em 2020). Queremos evitar que o Crivella, através do Ramagem, volte ao poder, e estamos com a esquerda unificada na base.

Na sabatina, Tarcísio também defendeu uma redução de cargos comissionados na administração municipal. A sugestão de Tarcísio foi feita quando criticava acordos políticos do atual prefeito Eduardo Paes (PSD), que levaram ao preenchimento da máquina pública com nomes indicados por apoiadores de sua campanha à reeleição.

Tarcísio fez referência ao caso, revelado pelo GLOBO, de nomeações de pastores evangélicos ligados ao deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) na Fundação Jardim Zoológico. Otoni, que também é pastor, tem ajudado na aproximação de Paes com o eleitorado evangélico.

-- Paes, para ter apoio de Otoni de Paula, colocou aliados dele na Fundação Jardim Zoológico. Numa lógica de gastar mais dinheiro em cargos comissionados que podem ser cortados. Quantos cargos comissionados têm na prefeitura? Você não vai achar isso no portal da transparência -- criticou Tarcísio.

Em outro momento, Tarcísio também criticou uma aliança de Paes, no ano passado, com o então deputado federal Chiquinho Brazão, que foi preso neste ano sob acusação de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Em outubro, Paes empossou Chiquinho Brazão como secretário municipal de Ação Comunitária. A aliança foi desfeita no início deste ano, e Chiquinho foi exonerado, em meio ao avanço das investigações do caso Marielle.

Questionado também sobre qual relação teria, caso eleito, com o governador Cláudio Castro, a quem fez duras críticas, Tarcísio argumentou que o "papel do prefeito é institucional", e que precisaria "dialogar e cobrar" o titular do Palácio Guanabara.

Para argumentar que não teria dificuldades em manter esta relação institucional, Tarcísio deu como exemplo um voto do PSOL a favor do então prefeito Marcelo Crivella durante um processo de impeachment na Câmara de Vereadores. Na ocasião, quando Tarcísio era vereador e fazia oposição a Crivella, seu partido foi contra o afastamento do então prefeito por entender que não havia elementos sólidos para embasar o processo.

-- Mesmo sendo vereador de oposição ao Crivella, na hora que tentaram dar um golpe e mudar as regras para fazê-lo perder o cargo via impeachment, nós, do PSOL, mantivemos a coerência e não mudamos as regras no meio do jogo.