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Viajando com o neguinho
Em homenagem a Marden Bentes
Não houve planejamento, nem roteiro, parávamos onde bem entendíamos, dormíamos no primeiro hotel ao anoitecer, Neguinho Marden era o piloto. Eu, Di Menezes e os irmãos, Luciano e Marden Bentes viajamos de carro até o Rio de Janeiro. Todos solteiros.
Chegamos ao Rio nos hospedamos no apartamento do Cáu (Cláudio Lima) no Flamengo, considerado como embaixada de Alagoas. Sempre havia um colchão para um hóspede amigo.
Naquela época funcionava a Casa das Alagoas, uma associação assistencial aos alagoanos radicados no Rio de Janeiro. Ponto de encontro para matar saudades e unir a tribo caeté. Roberto Mendes, o presidente, sabendo de nossa viagem, programou um roteiro de festas para o fim de semana.
No sábado estava marcado uma festa pré-carnavalesca, baile “Vermelho e Preto” no Clube de Regatas Flamengo. Embaixo do edifício havia vários bares lotados de gente com a camisa rubro-negra. Nêguinho Marden, flamenguista roxo, com seu charme e alegria arrumou logo uma namorada vestida de Flamengo. Para entrar no baile era obrigatório vestir-se com roupas vermelho e preto. Depois de algumas doses num botequim partimos para a sede do Flamengo.
Roberto Mendes, organizado, comprou nossos ingressos antecipadamente. Na hora apareceu César, um carioca, morou em Alagoas, amigo nosso, sentia-se alagoano. O Clube cheio, não havia mais ingressos à venda.
Ficamos matutando como resolver o problema, procuramos cambista ou quem quisesse vender um ingresso, nada. O tempo passando, nós, agoniados, perdendo o baile cheio de mulheres bonitas.
De repente Marden percebeu um caminhão fazendo manobras, tentando entrar pelo portão lateral, ele gritou, “Encontrei a solução”. Partiram ele, César e Roberto em direção ao caminhão. Confabularam com o motorista. Voltaram alegres, tudo resolvido: Soltaram uma grana, colocaram César por trás do caminhão frigorífico que levava gelo à festa. Entramos satisfeitos, acompanhados por lindas cariocas.
O baile fervia animado. Depois de algumas voltas no salão, encontramos César no bar tomando conhaque puro, camisa molhada, batia o queixo. Vinte minutos dentro do frigorífico do caminhão; quase morre congelado. Empurramos o carioca para o salão, sambamos com as rubro-negras até o dia amanhecer.
No domingo pela manhã, marcamos encontro na Praça General Osório. Maior expectativa com o desfile da Banda de Ipanema. Roberto Mendes havia providenciado uma ala dos alagoanos. Nossa fantasia: sunga de banho de mar, tamanquinho de praia e uma toalha em volta do pescoço para abastecer de lança-perfume.
Começamos a esquentar as baterias num bar perto da praça. O bar lotado, nossa mesa das mais concorridas, cariocas bonitas, namoradas, paqueras. Era só alegria, felicidade e carnaval.
Em certo momento César sentiu fortes cólicas, consequência da friagem do frigorífico, foi se esvair no acanhado e sujo banheiro. Depois dos serviços, depois de ter obrado, ele retornou à mesa. Ao pagar a conta para nos juntarmos à Banda, saímos dançando e cantando, quando pela primeira vez o Nêgo Marden reclamou:
– “Êita fedor de merda! Alguém pisou em bosta!”
Olhamos nos solados dos tamancos, nenhum vestígio de cocô. Nessa altura havia uma multidão na Praça General Osório.
Nosso grupo animado, ala cheia de mulheres bonitas, contrastava com o cheiro de merda no ar. Até que a fonte fedorenta foi descoberta: César, na hora do serviço, não notou que o tolete caiu dentro da sunga. Ele vestiu-a novamente. Infestou-se de cocô, meio bêbado, não percebeu.
A Banda de Ipanema terminou à noite. Programamos prorrogar a farra no Restaurante Alkazar em Copacabana. Enfrentamos um ônibus lotado, muita gente em pé. A certa altura alguém gritou:
– “Motorista pare! cagaram dentro do ônibus!!!”
Resumindo a história, o motorista parou numa Delegacia. César se delatou, descemos e ficamos na Delegacia em solidariedade ao cagão. O delegado soltou César depois de um banho com sabugo.
Terminamos a noitada às gargalhadas no Alkazar com as namoradas cariocas, relembrando as façanhas até o fim da noitada. Era o início de férias no Rio de Janeiro no tempo de Roberto Mendes, presidente da Casa das Alagoas.
- Nota – Meu amigo, bem humorado que irradiava alegria onde estivesse, Marden Lima Bentes, acabou de falecer. Tristeza. Está acabando essa geração, tão bela..
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