Política

Ciro Nogueira vira fiador da candidatura de Hugo Motta na Câmara

Presidente do PP articula apoio da oposição a Motta e tentou fazer com União rifasse Elmar, mas partido mantém candidatura

Agência O Globo - 05/09/2024
Ciro Nogueira vira fiador da candidatura de Hugo Motta na Câmara
Foto: Pedro França/Agência Senado

Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira se tornou um dos principais articuladores da campanha de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara. Ele comanda o partido do atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que tinha Elmar Nascimento (União-BA) como seu favorito para o posto a partir do ano que vem.

Nas últimas 72 horas, Ciro Nogueira apresentou a candidatura de Motta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um encontro na sua residência, em Brasília, e esteve na noite de quarta-feira em uma reunião a portas fechadas com o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, em São Paulo.

No segundo encontro, a intenção era fazer com que Rueda desistisse de lançar Elmar e compusesse com o candidato do Republicanos. Ciro deixou claro que Motta é o candidato apoiado por ele. Por outro lado, Rueda respondeu que o União Brasil não pensa em retirar a candidatura.

O entendimento do presidente do União Brasil, de acordo com interlocutores, é de que não cabe à legenda fazer este pedido de desistência a Elmar. E, por isso, o mantém como candidato. Na quarta-feira, em resposta, o partido selou uma aliança com o PSD para fazer frente a Motta — a ideia é que, mais à frente, quem estiver mais bem posicionado entre Elmar e Antonio Brito (PSD-BA) seja o candidato das duas siglas.

Apesar do posicionamento firme em torno da candidatura de Elmar, caciques do União não escondem a insatisfação com Lira por não ter anunciado o apoio a Elmar no último dia de agosto, conforme prometido. Além de descumprir o prazo, o partido reclama que foi dado espaço para o surgimento da nova candidatura de Hugo Motta.

A avaliação da cúpula do União é que Motta é um nome que seria mais ligado a Ciro Nogueira e ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha do que a Lira. Partidários de Elmar dizem que Lira se enfraqueceu nesse processo e que Ciro Nogueira seria o principal fortalecido.

Há também reclamações no partido de Elmar em relação ao papel do governo no processo que lançou Motta. A legenda deseja que Lula não anuncie apoio a Motta e dizem que, se isso acontecer, podem desembarcar da base do governo.

Apesar de ter atuado nos bastidores na construção da candidatura do líder do Republicanos, Lula evita demonstrar publicamente apoio ao deputado e disse em entrevista a uma rádio de Minas Gerais que não tem nome na disputa.

Mesmo reconhecendo o revés com a falta do apoio de Lira e com articulação do governo, integrantes do União evitam falar em desistir da candidatura de Elmar e ainda apostam no acordo com o PSD para se reerguer.

Rueda, Elmar e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, se reuniram construíram um pacto entre os dois partidos. Há também uma aposta de rachar as bancadas do PT e do PL e evitar que os partidos apoiem integralmente a candidatura do líder do Republicanos.

Bolsonarismo se reúne para o tema

Deputados do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, se reunirão na próxima segunda-feira para debater a sucessão de Lira. A reunião da bancada já estava marcada, já que a semana que vem é de esforço concentrado na Casa, mas agora o apoio a um dos candidatos deve ser o principal assunto na liderança da legenda.

A entrada de Motta no páreo da disputa embaralhou os votos do campo bolsonarista, dizem pessoas próximas ao ex-presidente.

Se antes era certo que Elmar teria o apoio de Bolsonaro, por ser próximo de Lira, agora o cenário é outro. Motta é considerado um candidato que conta com a simpatia de pessoas com influência direta sobre as decisões do ex-presidente. Ciro e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo, intermediaram um encontro de Bolsonaro com Motta na quarta-feira e afirmaram a interlocutores que "trata-se de uma opção".

Pesa o fato de Motta ter substituído Marcos Pereira (Republicanos-SP) na disputa, com quem Bolsonaro acumulou rusgas nos últimos anos. Ao contrário de Pereira, Motta transita bem entre o "núcleo duro" do bolsonarismo e atrai simpatias por já ter enfrentado o petismo: ele votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e compôs a chamada "tropa de choque" do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Aos bolsonaristas em encontro na quarta, ele afirmou que acenaria aos governistas com o objetivo de ser eleito para a Câmara, mas não seria subserviente ao governo.

Com 93 parlamentares, a bancada bolsonarista é vista como possível "fiel da balança" na disputa. E, conscientes do seu peso, os parlamentares negociam o apoio e pedem a primeira vice-presidência da Casa.