George Gascón, o procurador do distrito de Los Angeles, disse na quinta-feira que seu escritório está revisando um caso de décadas envolvendo os irmãos Lyle e Erik Menendez, que mataram os pais em sua casa em Beverly Hills e foram condenados à prisão perpétua. O caso, que ganhou destaque na década de 1990, foi um dos primeiros a atrair uma audiência nacional diária para um julgamento criminal televisionado.

'Monstros — Irmãos Menendez:

Nota 10:

Segundo o próprio depoimento dos dois jovens, eles entraram na sala da mansão da família em uma noite com espingardas e dispararam mais de uma dúzia de tiros contra a mãe e o pai enquanto o casal estava sentado no sofá.

Os promotores apresentaram os irmãos como assassinos frios e gananciosos, interessados em ter acesso irrestrito aos bens de seus pais, que eram avaliados em cerca de 14 milhões de dólares. Os advogados de defesa dos irmãos argumentaram que eles foram molestados sexualmente por anos por seu pai e que mataram por medo.

Gascón não indicou qual é sua posição, mas suas declarações sugerem que as alegações de abuso sexual estão entre os aspectos que seu escritório está revisando. Ele disse que seu escritório está dividido sobre se os irmãos devem permanecer na prisão pelo resto de suas vidas.

"Temos uma obrigação moral e ética de revisar o que está sendo apresentado a nós", disse ele.

Os comentários de Gascón vêm na reta final de sua campanha de reeleição, enquanto o interesse no caso Menendez se intensificou após o lançamento de uma nova série dramática da Netflix sobre o assunto. A série, “Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story,” foi criticada por Erik Menendez e muitos outros membros da família Menendez como grotesca e repleta de falsidades.

Ryan Murphy, um dos criadores da série, defendeu seu trabalho em entrevistas. Ele disse ao Hollywood Reporter que havia "espaço para todos os pontos de vista" e argumentou que os irmãos deveriam ser gratos por trazer mais atenção ao caso.

Outro projeto da Netflix, um documentário intitulado “The Menendez Brothers,” será estreado em 7 de outubro. O trailer mostra que os irmãos contarão sua história no filme.

Em suas breves declarações na quinta-feira, Gascón reconheceu que o docudrama de Murphy gerou burburinho e resultou em muitas ligações para seu escritório.

Os advogados dos irmãos estão pedindo a Gascón que recomende uma re-sentença, o que poderia levar à liberação deles, dado que já passaram décadas na prisão.

Os irmãos Menendez ganharam notoriedade há mais de três décadas. As acusações fizeram manchetes em todo o país, e o subsequente julgamento criminal foi televisionado para uma audiência nacional — um precursor dos julgamentos de O.J. Simpson e outros que inauguraram a era do Court TV.

Lyle e Erik Menendez foram acusados dos assassinatos de seus pais, Mary Louise, uma ex-miss que se chamava Kitty, e seu pai, Jose, um executivo musical.

A primeira acusação, que começou em 1993, terminou com júris empacados nos julgamentos de ambos os irmãos, após seus advogados argumentarem que eles foram molestados sexualmente por seu pai e que mataram por medo. Mas quando os irmãos foram reprocessados juntos dois anos depois, o juiz proibiu câmeras no tribunal e limitou o testemunho e as provas relacionadas à paternidade de Jose Menendez.

E conforme o julgamento se aproximava do fim, o juiz, Stanley M. Weisberg, também decidiu que o argumento do "desculpa do abuso" não poderia ser usado. A decisão basicamente forçou os jurados a decidir entre deixar os irmãos livres ou condená-los por homicídio.

Eles foram considerados culpados de homicídio em primeiro grau e, em 1996, foram condenados à prisão perpétua, onde permanecem.

Em sua coletiva de imprensa na quinta-feira, Gascón disse: “É importante reconhecer que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas de abuso sexual.” Ele apontou para o registro de seu escritório, afirmando que mais de 300 pessoas foram liberadas sob sua política de re-sentença e apenas quatro delas reincidiram.

Tratamentos recentes do caso — incluindo vários documentários e a série roteirizada “Law & Order True Crime: The Menendez Murders” — foram mais simpáticos aos irmãos.

Novas evidências também surgiram. O jornalista Robert Rand, que cobriu a história por décadas e escreveu um livro, “The Menendez Murders,” descobriu uma carta que Erik escreveu para Cano, seu primo, quando tinha 17 anos, descrevendo o abuso sexual por seu pai e como ele estava com medo. Uma docuserie da Peacock de 2023, “Menendez + Menudo: Boys Betrayed,” baseada em reportagens de Rand e Nery Ynclan, detalhou novas acusações de um ex-membro da boy band porto-riquenha Menudo de que Jose o havia assediado sexualmente quando ele era adolescente.

Em meio ao renovado interesse, os irmãos e seu caso se tornaram um fenômeno nas redes sociais, com legiões de jovens pedindo a liberação deles. Em maio de 2023, Cliff Gardner, um advogado dos irmãos, entrou com um pedido de habeas corpus argumentando que a condenação deles deveria ser anulada por causa das novas evidências. O escritório de Gascón ainda não respondeu formalmente e recebeu uma extensão do tribunal no início desta semana.

Outro advogado dos irmãos Menendez, Mark Geragos, disse na quinta-feira que achou "muito corajoso" do procurador “se manifestar 30 dias antes de uma eleição contestada e fazer as declarações ousadas que fez.” Geragos acrescentou que estava "mais do que otimista" sobre o resultado e apontou as duas novas evidências como "mais do que uma base suficiente para anular o resultado do segundo julgamento."

Em seus documentos judiciais, os advogados dos irmãos Menendez argumentaram que em 2024 "há uma compreensão evoluída sobre abuso sexual." Eles apresentaram uma carta em que duas dezenas de membros da família, incluindo a irmã de Kitty e a irmã de Jose, pediram a re-sentença, dizendo que "o tempo trouxe perspectiva" e que "a contínua prisão não serve a nenhum propósito de reabilitação."

“Eles dizem que já chega,” disse Bryan Freedman, advogado de duas dezenas de membros da família Menendez. “É hora.”

Nem todos os membros da família compartilham a mesma perspectiva.

Um dos irmãos de Kitty, Milton Andersen, não estava entre os signatários da carta da família. Falando ao The New York Times no ano passado, após o lançamento do documentário “Menendez + Menudo,” ele usou um palavrão para chamar a acusação contra Jose de falsa e disse que os irmãos Menendez não deveriam ser libertados.

“Eles não merecem andar na face desta terra após matar minha irmã e meu cunhado,” disse ele.