Cidades
Mar Vermelho: a cidade alagoana onde o MDB é unanimidade absoluta
Mar Vermelho, cidade localizada na Zona da Mata de Alagoas, conhecida por Suíça Alagoana tem um fato político curioso e raro, talvez único no Brasil: é um verdadeiro reduto unipartidário. Na eleição de ontem (07), o município, com uma população estimada de apenas 3.674 habitantes (segundo o IBGE, 2020), elegeu prefeito, vice-prefeito, todos os nove vereadores e até mesmo o único suplente de vereador pelo mesmo partido, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em uma época onde a proliferação de legendas e partidos políticos é uma realidade no Brasil, Mar Vermelho se destaca pela sua total ausência de pluralidade partidária.
Política de consenso ou falta de alternativa?
Na eleição municipal de 2024, Mar Vermelho mostrou ao país um cenário que, por mais curioso que pareça, contrasta com os princípios da própria sigla do MDB, que em seu nome carrega a promessa de "Movimento Democrático". No entanto, em Mar Vermelho, a democracia parece ter assumido uma forma de consenso absoluto — não há oposição partidária. O candidato a prefeito André Almeida foi o único na disputa, sem adversários. A cidade inteira, de ponta a ponta, é comandada pelos integrantes do MDB, e qualquer um que queira ingressar na política local para ter sucesso parece que precisa obrigatoriamente se filiar ao partido.
Para muitos, isso levanta questões sobre a pluralidade democrática e a representação de diferentes vozes dentro do município. Em Mar Vermelho, não há espaço para divergências ideológicas ou para projetos alternativos de gestão, o que, por ironia do destino, vai contra os próprios princípios democráticos do partido e da Constituição brasileira, que defende a diversidade de ideias e a alternância de poder como bases fundamentais.
Estrutura de Mar Vermelho e seus desafios
Com uma área total de 91,538 km² e uma elevação de 636 metros acima do nível do mar, Mar Vermelho é o segundo menor município em termos de população em Alagoas, atrás apenas de outros pequenos vilarejos do estado. A cidade tem características típicas de uma localidade do interior alagoano, com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em apenas R$ 13,4 milhões (dados de 2008). Esse contexto de pequenas dimensões e economia limitada ajuda a explicar a formação política atual, onde uma única força partidária parece ter se consolidado como a única opção viável.
Democracia sem pluralidade
O domínio do MDB em Mar Vermelho desperta debates interessantes sobre o real significado de democracia em cidades tão pequenas. Será que os eleitores estão realmente satisfeitos com essa hegemonia? Será que há espaço para debates sobre diferentes perspectivas de gestão? Ou será que, diante de uma população reduzida e uma realidade econômica restrita, a alternativa encontrada pela comunidade foi seguir um caminho único, sem conflitos e divisões?
Apesar do caráter curioso e aparentemente pacífico da política local, a falta de oposição e de pluralidade ideológica em Mar Vermelho chama atenção para um desafio maior: a manutenção dos valores democráticos em sua essência. Uma cidade sem oposição e sem diferentes visões de gestão corre o risco de cair na apatia política, onde não há incentivo para a inovação ou para questionar as decisões tomadas pelos líderes que estão no poder.
Reflexão para o futuro
Mar Vermelho é um caso único no cenário político brasileiro. Numa nação que conta com mais de 30 partidos políticos e onde a fragmentação das legendas é uma constante, a cidade surge como um exemplo onde a hegemonia é total. Isso levanta uma questão interessante sobre a viabilidade e as consequências de um sistema político sem disputas. Se, por um lado, a falta de conflito parece indicar um cenário pacífico, por outro, pode significar ausência de progresso e inovação, uma vez que não há ideias alternativas para estimular a mudança.
Resultado da eleição: um cenário de 100% de unanimidade
O prefeito reeleito, André Almeida (MDB), obteve 100% dos votos válidos, totalizando 2.540 votos. Com uma candidatura única, Almeida não teve qualquer adversário e foi apoiado em massa pelos eleitores da cidade. A eleição contou com um total de 3.123 votos registrados, dos quais 244 foram brancos e 339 nulos. Além disso, 520 eleitores se abstiveram de votar, um número que também chama atenção em uma cidade pequena como Mar Vermelho.
O resultado é reflexo de um consenso absoluto em torno do MDB, sendo um fenômeno extremamente raro no Brasil.
Vereadores eleitos: todos do MDB
Assim como na disputa para prefeito, a corrida pelas nove vagas na Câmara de Vereadores de Mar Vermelho também foi dominada integralmente pelo MDB. Todos os vereadores eleitos e até mesmo o suplente pertencem ao partido, o que reforça a absoluta hegemonia do MDB no município. Confira os nomes dos eleitos e do único suplente:
• Zé Roldão (MDB) - 15,56% dos votos (461 votos)
• Caetano do Mané (MDB) - 14,28% dos votos (423 votos)
• Rosa do Lau (MDB) - 13,57% dos votos (402 votos)
• Quiteria Berto (MDB) - 8,71% dos votos (258 votos)
• Duda (MDB) - 8,34% dos votos (247 votos)
• Larissa Oliveira (MDB) - 8,20% dos votos (243 votos)
• Paulo Romão (MDB) - 7,46% dos votos (221 votos)
• Cledjane Rocha (MDB) - 7,36% dos votos (218 votos)
• Valdo (MDB) - 7,05% dos votos (209 votos)
Suplente
• Júnior Gordinho (MDB) - 6,34% dos votos (188 votos)
Totalizando 3.123 votos para a Câmara, dos quais 2.963 foram válidos, os eleitores mostraram um alinhamento unânime com o partido.
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