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A crônica da Alari

Carlito Peixoto Lima 01/12/2024
A crônica da Alari
Carlito Peixoto - Foto: Assessoria



Servi ao Exército Brasileiro por 16 anos. Dos tempos da Academia Militar das Agulhas Negras tenho ainda muitos amigos-irmãos. Hoje lendo a crônica da Alari, esposa do Coronel Rubião, meu colega de turma, me emocionei e peço licença a meus leitores para passar em minha coluna o que Alari Torres, nossa grande cronista, escreveu.


QUE SAUDADES! Alari Romariz Torres *


Comecei a conviver com o pessoal do Exército Brasileiro em 1963. Casei-me com um Tenente do EB, vindo da Academia Militar das Agulhas Negras. Passei a morar em vilas militares e conhecer muita gente boa. Eram tios do coração dos meus filhos.


Havia no ambiente militar carinho e respeito entre as famílias. Os salários eram bons e os quartéis tinham granja, armazém reembolsável e outras vantagens. Apesar de não termos planos de saúde, éramos atendidos por médicos e dentistas dos quartéis. As festas de Natal e São João eram famosas e fartas. O que mais me empolgava era o planejamento e a organização com que as reuniões eram realizadas. Tudo muito certo, desde os lugares reservados para os participantes, até o quantitativo da comida, que nunca faltava.


As viagens de Oficiais e Praças também eram bem certinhas. Eles recebiam diárias e não havia excesso de economia para prejudicar o deslocamento dos indivíduos e suas famílias.


Tudo era muito farto e os Soldados que entravam nas Forças Armadas comiam bem. Recebiam fardas e aprendiam um ofício. Depois que cumpriam o tempo de serviço exigido por lei, sempre iam trabalhar nas empresas da cidade.


Em Garanhuns, Pernambuco, havia um bonito trabalho social, chamado MUNDICO. Trinta meninos de escolas públicas iam para o quartel no horário em que não estudavam. Aprendiam a trabalhar e recebiam aulas de Moral e Cívica. Nos dias de feira, quando ouvia alguém me chamando para ajudar, era um deles com certeza.


As famílias militares conviviam nas vilas em completa harmonia. Havia ônibus para levar as crianças nas escolas. Todas eram filhos de Praças e Oficiais, que se tornavam amigos. O esporte era praticado nas vilas e rapazes e moças viravam atletas no meio civil.


O relacionamento do pessoal militar com a comunidade local era muito bom.


Nas festas eram convidadas autoridades e todos se davam bem. Havia uma organização chamada “Amigos do Quartel”, da qual participavam pessoas selecionadas da sociedade.


O ensino militar é muito bom. Há colégios militares com um ensino qualificado. Pela primeira vez na vida, vi um filho meu terminar um programa anual antes do fim do ano, em outubro. O resto do ano era para revisar. No fim do ensino médio, os alunos eram aprovados em qualquer vestibular. Além de serem preparados para a vida.


Não posso reclamar da vida que vivi no ambiente militar: fiz bons amigos, meus filhos ganharam tios e primos. Tudo só nos trouxe felicidade.


Acho, entretanto, que militar não combina com política. Estou assustada com os acontecimentos ocorridos nos últimos tempos. Os repórteres civis xingam as autoridades militares, num completo desrespeito. De General a Praças estão envolvidos em escândalos. Alguns já foram presos. Até os salários serão retirados. Uma completa desmoralização!


As verbas dos quartéis estão sumindo. Elas são desviadas para outros Ministérios. Até a comida para os Soldados é pouca. As festas inexistem. A maioria dos jovens não pede mais para servir.


O Ministro da Defesa, que é um civil, não defende a categoria, os Oficiais estão calados, suas famílias sofrem, os direitos adquiridos são cortados, os seguros são subtraídos.


Sinto saudades do Exército do meu tempo!