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Espera ansiosa

Carlito Peixoto Lima 08/12/2024
Espera ansiosa
Carlito Peixoto - Foto: Assessoria

Igor entrou na puberdade com muito hormônio e a libido aperreando, porém, duas paixões, desde menino, baixavam seu fogo: velejar e nadar. Morava perto do Iate Clube Pajussara onde guardava o barco, desde cedo aprendeu o manejo das velas, foi campeão juvenil de snipe. Descia o barco da garagem, velejava pela enseada, bordejava, virava, encantava-se com o mar verde esmeralda. Solitário no barco olhava ao longe as casas pequeninas.

Quando não navegava, acordava cedo, vestia o velho calção de banho, corria em direção ao mar, mergulhava na água tranquila, pequenas marolas, nadava rumo ao infinito, de repente, retornava à praia. Depois do mergulho matinal, Igor tomava um bom café, colocava os livros na pasta, pegava o bonde ou ônibus rumo ao Colégio Diocesano no Centro de Maceió.

Pela tarde estudava numa puxada do quintal, depois caía no mundo, jogar futebol, ximbra, botão, roubar mangas e cocos dos sítios vizinhos, muitos amigos, juventude livre e solta.

Certa tarde Igor terminou de estudar, deu vontade de fazer xixi, abriu o quarto de empregada que ficava no quintal; tomou um susto ao ver Lindaura, a copeira, nua como veio ao mundo entrando no chuveiro, deu-lhe uma paralisia ao olhar a bela morena, precisou algum tempo para fechar a porta. Emocionado subiu os degraus do quintal para casa, em sua cabeça, em seus pensamentos, ficou forte a imagem do corpo de Lindaura. Sertaneja, 27 anos, abandonada pelo marido, trabalhava em casa de família para poder sustentar o filho, morava com os avós em Bebedouro, bairro da periferia.

Na tarde seguinte, Igor saboreava uma doce pinha na varanda do quintal, Lindaura se achegou provocando: "Vou tomar banho, pode olhar se quiser, mas só olhar, está ouvindo?" O jovem ficou excitadíssimo, esperou Lindaura entrar no seu quarto, apanhou um livro, dirigiu-se ao quintal, olhava para os lados, desconfiado, como quem pratica um mal feito, seu coração aos pulos, aproximou-se, abriu a porta, ficou encantado, o sangue ferveu nas veias ao ver Lindaura embaixo do chuveiro se esfregando com sabugo. Retornou ao seu quarto, sua mente via apenas Lindaura esfregando coxas e nádegas com sabugo e sabão. Naquele instante ele homenageou ao Deus Onã.

Segredo entre os dois, toda tarde havia a liturgia do banho de Lindaura no quintal. Passaram mais de três semanas nesse ritual, Igor não suportou o segredo, se gabando contou a Paulinho, seu melhor amigo, o que estava acontecendo em suas tardes. Paulinho também quis ver a mulher nua. Igor recusou, o amigo chantageou, ameaçou espalhar para todo bairro. Na tarde seguinte, Lindaura tomou um susto ao ver dois jovens abrirem a porta do quarto, toda ensaboada, gritou. -"feche a porta.". Ela não gostou, a partir desse dia trancava a porta à chave para tomar banho. Uma tristeza para o adolescente Igor que "ficou de mal", sem falar com o amigo Paulinho. A imagem de Lindaura alimentava os sonhos, as fantasias de Igor, ele a olhava com ar de pidão, ela sorria matreira.

Meses passaram, no dia do aniversário de 14 anos de Igor, sua mãe caprichou num bolo de velas, convidou amigos e amigas, saiu cervejinha, cuba libre, dançaram ao som de Ray Conniff. Final da festa, hora de dormir, ao partir para o quarto, Igor esbarrou-se com Lindaura limpando a sala, ela sorriu oferecida, -"amanhã vou lhe dar meu presente, me espere às oito horas da noite na praia por trás dos Sete Coqueiros."

Durante todo o dia seguinte não saía da cabeça de Igor o encontro marcado com Lindaura. Às 7:30 da noite Igor já estava sentado na areia branca da praia, esperando. O céu brilhava de estrelas, os minutos passavam devagar no relógio. Deu oito horas ela não apareceu, de ansioso passou a decepcionado. Eram mais de oito e meia quando ouviu um “psiu” e sentiu um abraço por trás. Lindaura deitou-se na areia, cochichou no ouvido do patrãozinho: -"É meu presente de aniversário."