Internacional
China 'continuará a prevalecer' no Mercosul para além do acordo com a União Europeia, diz analista
A intenção de "vencer a China" é um dos elementos que leva a União Europeia a reavivar o acordo comercial com o Mercosul, disse à Sputnik o analista Marcelo Robba que considera que "a preponderância da China é inegável" e que Pequim continuará a ser o mai
O anúncio de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) lançado no início de dezembro pode "não ser uma boa notícia" para a China, que há anos tenta fechar um tratado semelhante com o bloco sul-americano, embora sem sucesso. De qualquer forma, pode ser que mesmo com uma situação não tão positiva, o gigante asiático não perca espaço como principal parceiro dos países do Cone Sul.
Marcelo Robba, analista de Negócios Internacionais e membro do Grupo de Estudos da China (GEChina) da Universidade Nacional Argentina de Rosário, disse à Sputnik que, embora Pequim "não o declare", o anúncio feito no dia 6 de dezembro em Montevidéu pode manter atento ao governo chinês. "Os processos de integração fortalecem os países, mas às vezes também complicam porque assumem compromissos com aquele bloco e perdem um pouco de liberdade de manobra", disse o analista.
Robba destacou ainda que, além da resistência interna que o acordo ainda apresenta no velho continente, a UE busca que o acordo com o bloco fundado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai seja visto como um duelo vencido contra a potência asiática.
"A Europa vê a China como um rival internacional e uma das variáveis que leva em conta na abordagem ao Mercosul é tentar obter uma pequena vantagem sobre a China", disse o especialista.
Neste quadro, Robba lembrou que a UE procura "colocar obstáculos" em alguns setores em que a China se consolida como líder mundial, como os veículos elétricos (VEs) ou o desenvolvimento da inteligência artificial (IA). "O mundo está mudando com novas indústrias e novas tecnologias e a China parece mais bem posicionada, por isso a Europa está buscando como se proteger disso", afirmou o analista, salientando que o acordo com o Mercosul "tem a ver com essa realidade".
Além disso, acrescentou Robba, a China encontra atualmente um panorama político "pouco auspicioso" dentro do Mercosul, principalmente devido à assunção da presidência pro tempore da Argentina de Javier Milei, à relutância do Paraguai nas relações com Pequim e a uma mudança de governo no Uruguai que abre um período de espera para negociações sobre um possível acordo de livre comércio.
Para o especialista, o Brasil é neste contexto "aquele que poderia promover uma maior aproximação com a China" se não fosse uma "tradição protecionista" que, em defesa dos seus setores industriais, o distancia da possibilidade de um acordo.
China não perderá posição na América do Sul
De qualquer forma, o especialista lembrou que há um longo caminho entre o anúncio de 6 de dezembro e uma eventual entrada em vigor do acordo, uma vez que as condições estipuladas devem ser aprovadas por todos os países europeus, um processo que já deixou o acordo, anunciado em 2019, paralisado.
Assim, Robba previu que a China deve continuar a ter uma atitude "muito ativa" e "continuará a prevalecer na região independentemente dos acordos que forem feitos".
"A preponderância da China é inegável e acredito que o país continuará a fazer prevalecer a sua importância e qualidade como parceiro fundamental para cada um dos membros do Mercosul. E, na medida que pode, avançará com os acordos que possa fazer", ponderou.
Na verdade, nas últimas semanas Pequim mostrou que não descarta a sua intenção de promover acordos com o Mercosul. Além de se reunir com o presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, no dia seguinte à sua vitória eleitoral, o embaixador chinês em Montevidéu, Huang Yazhong, declarou à mídia local que seu país mantém uma "posição aberta" para insistir em um acordo de livre comércio, seja bilateral com o Uruguai ou multilateral com todo o Mercosul.
Para reforçar a relevância da proposta, o diplomata lembrou que dois principais concorrentes do Uruguai, como a Austrália e a Nova Zelândia, já assinaram acordos com a China, pelo que têm acesso a vantagens tarifárias.
Também em dezembro, a China enviou o seu representante para a América Latina e Caribe, Xu Wei, a Assunção para se reunir com senadores da oposição paraguaia e explorar a possibilidade de o país sul-americano abandonar os seus laços com Taiwan para se aproximar da China.
Robba considerou, em todo o caso, que um sinal inequívoco da importância da China para a região é "a mudança de posição do governo Milei", que finalmente procurou manter relações diplomáticas e comerciais com o gigante asiático apesar das suas palavras hostis para com os chineses e seu sistema político.
O especialista considerou que uma fórmula plausível para a China reforçar a sua presença na região nos próximos anos pode ser avançar em acordos "setoriais" que permitam estabelecer facilidades comerciais para setores específicos da economia.
"Podem ser alcançados avanços em questões setoriais que permitem a redução de tarifas mútuas em determinados setores, facilitando o embarque de produtos do Mercosul em troca de facilitar a entrada de determinados itens chineses", concluiu.
Por Sputinik Brasil
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