Internacional
Putin aumenta pressão sobre líderes ocidentais em relação à Ucrânia, veem analistas sobre entrevista
Nesta quinta-feira (19) o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizou a sua conferência anual Linha Direta, na qual respondeu a perguntas da população russa e de jornalistas nacionais e estrangeiros. À Sputnik Brasil especialistas em geopolítica russa
A entrevista, como era de se esperar, tocou nos temas da operação especial na Ucrânia, da economia russa, a amizade com a China e o desenvolvimento do Oreshnik.
O presidente Putin destacou que a crise econômica que atinge a Alemanha se deve ao fato de que ela abandonou sua soberania em detrimento dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, movimento contrário daquele feito pela Rússia que desde antes do início da operação especial buscou manter sua independência.
Esse é um dos motivos, diz Giovana Branco, doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora de política externa russa, pelo qual a economia russa foi capaz de sobrepujar as inúmeras rodadas de sanções aplicadas pelo Ocidente.
"As sanções que foram aplicadas à Rússia desde o início do conflito com a Ucrânia foram sem precedentes. A exclusão da Rússia do sistema SWIFT, por exemplo, foi algo que a gente nunca tinha visto", comenta Branco.
"O que as economias ocidentais não compreenderam no momento é que a economia russa já estava preparada para este momento e que não está isolada, embora essa seja uma narrativa bastante presente."
Pelo contrário: no ano passado, a Rússia ultrapassou a Alemanha e neste ano o Japão se tornando a quarta maior economia do mundo. Seu ritmo de crescimento é o maior da Europa, destacou Putin.
Ao tentar isolar a Rússia das economias europeias, o país euroasiático conseguiu com sucesso reorientar sua economia para o leste, "fazendo parcerias mais profundas com a China e os países da Ásia Central, além da Índia", afirma a pesquisadora de geopolítica russa.
A união Rússia, China e Índia é um projeto antigo da diplomacia russa, declara pela primeira vez pelo estadista russo Yevgeny Primakov. Essa parceira, em especial entre a China e a Rússia "tem alterado drasticamente o sistema internacional", destaca Branco.
Durante a coletiva, Vladimir Putin lembrou que a Rússia e a China foram os países mais devastados ao fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, a amizade sinorrussa está em seu maior nível histórico, sublinhou o presidente, com os países coordenando suas ações na arena internacional.
Há anos esses esses países se incomodam com a falta de espaço que lhes era dada na mesa de decisões internacionais, lembra a pesquisadora da USP. "O que nós observamos hoje são duas potências que têm bastante consciência do seu status internacional e buscam ativamente não apenas seguir as regras liberais dos sistemas ocidentais, mas também propor novas ordens internacionais."
"Estamos falando de dois países que propõem uma nova visão de mundo, não necessariamente uma antiocidental em sua origem, mas uma que adiciona o interesse de outras potências e adiciona a percepção de que os Estados Unidos não são mais capazes de liderar os interesses globais."
Nathana Garcez, doutoranda em relações internacionais pelo Programa de Pós-graduação San Tiago Dantas, afirma o potencial de impacto das relações sino-russas é sem precedentes, uma vez que "remodela a geopolítica mundial."
Ambos os países possuem uma "grande capacidade de influência nos seus espaços próximos", sendo líderes econômicos e militares. "São duas das maiores potências a nível global", detalha.
Nesse sentido, a fala de Garcez vai de encontro com a declaração de Putin sobre suas Forças Armadas. Segundo o presidente russo, tanto seu Exército quanto seu complexo industrial-militar possuem a maior prontidão de combate do mundo.
Por outro lado, argumenta Putin, os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) encontram dificuldades de fornecer armamentos e munições à Ucrânia.
Em outra fala, o presidente da Rússia elogiou o sistema de mísseis Oreshnik, desenvolvido inteiramente de tecnologia pós-soviética. "Não existem sistemas de defesa área que o atinjam", declarou.
Putin também lançou um desafio ao Ocidente, um duelo entre o Oreshnik e os sistemas de defesa de mísseis ocidentais. "Deixe-os identificar algum alvo em Kiev, concentrar todas as suas forças de defesa aérea e de mísseis lá, e nós atacaremos lá com Oreshnik e veremos o que acontece."
Para Garcez, as falas de Putin "jogam pressão" para as potências ocidentais em um contexto em que a Rússia alcança ganhos territoriais constantes em Donbass e que novos pacotes de ajuda militar seguem sendo aprovados pelos países-membros da OTAN, além do aumento de ataques terroristas por Kiev.
De fato, ambas as especialistas afirmam que a estreia do Oreshnik é uma nova etapa no cenário militar mundial, não só por sua eficiência bélica, mas por poder ser utilizado com ogivas nucleares.
"É um passo além do discurso", comenta Branco, "a partir do momento que a Rússia utiliza esse sistema, ela mostra ao sistema internacional que ela não só detém esses armamentos, como está disposta a utilizá-los."
Por Sputinik Brasil
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