Alagoas
A dupla missão de policiais militares alagoanas entre os desafios e vitórias da maternidade atípica

A maternidade é uma missão cheia de desafios vividos com amor. Uma frase popular diz que as mães sacrificam seus próprios sonhos para que seus filhos possam sonhar. Por gerações, mulheres enfrentaram todo tipo de situação para adaptar suas vidas à realidade de educar suas crianças e aliar atividade profissional à maternidade é apenas mais uma de suas missões. Neste Dia das Mães, em especial, vamos conhecer e nos inspirar com as histórias de mães policiais militares que, enquanto vestem e honram a farda, equilibram seus pratos todos os dias para viverem os desafios e as vitórias da maternidade atípica.
Major Firmo: comandante e mãe
No quartel, ela é a major Firmo. Em casa, é a mãe do Pedro Henrique, de 20 anos, e da Ana Sophia, de 16. Mas, como no coração de mãe sempre cabe mais um, ela também detém a guarda legal da irmã caçula, Juliana, de 15 anos, a quem considera como filha, desde que a mãe delas foi diagnosticada com câncer.
“A maternidade biológica transformou minha vida profundamente. Ser mãe me ensinou a ser mais forte, mais resiliente e mais sensível ao que realmente importa. Pedro chegou primeiro, em um momento cheio de desafios que me reconstruíram como mulher. Quatro anos depois, Ana Sophia trouxe equilíbrio e leveza para minha vida. Juliana me apresentou a maternidade do coração e preencheu nossa casa com mais amor. Cada um dos três é único, diferentes entre si, mas igualmente especiais”, refletiu.

Quando Pedro tinha quatro anos, foi diagnosticado com a Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista que interfere na capacidade de socialização e comunicação. A major lembra as palavras difíceis que ouviu da médica que acompanhava seu filho.
“Lembro claramente quando a profissional avaliou ele e me disse que eu deveria me conformar, pois talvez ele nunca aprendesse a ler e que estava tudo bem. Mas eu jamais aceitei aquela limitação como destino e nunca desisti dele. Iniciamos as terapias, fizemos todas as análises que eram necessárias naquele momento, encontrei excelentes profissionais no caminho e construímos as estratégias para que ele superasse os desafios e pudesse evoluir como qualquer criança”, recordou. Atualmente, Pedro cursa Administração Pública na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).

“O meu desejo é que a minha vivência possa encorajar outras mães a não desistirem. Foi uma longa jornada até aqui, mas tudo valeu a pena. A maternidade atípica exige fé, paciência, constância e uma capacidade enorme de se adaptar. Com meu filho, eu precisei ser mais criativa, ampliar meu repertório para poder me comunicar da melhor forma com ele”, lembrou.
“Se eu dissesse, por exemplo, ‘não vá para o fundo do mar’, ele não compreendia o risco. Mas se eu dissesse ‘fique perto de mim, porque eu não sei nadar’, ele entendia e respeitava. Esse tipo de adaptação foi necessária para ajustar algumas coisas ao longo do caminho. Hoje, o que posso afirmar é que é possível vencer, mesmo diante de diagnósticos difíceis”, completou.
Noemi Firmo ingressou na corporação no ano de 2001, com 19 anos. Após o Curso de Formação de Oficiais (CFO), ela foi designada para atuar, como aspirante, no Batalhão de Trânsito (BPTran). Posteriormente, adquiriu outras experiências na carreira ao servir na 2ª Companhia Independente, Quartel Geral, 7º, 3º, 10º e 4º Batalhões. Atualmente, a oficial superior comanda o Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc).

Sargento Nathalia: equilibrando força e sensibilidade
A sargento Nathalia Cristina Dias ingressou na corporação no ano de 2010. Nessa época, ela ainda não era mãe e foi durante a carreira que vivenciou os dois momentos mais importantes da sua vida: o nascimento do João Lucas, 12 anos, e do Benjamin, 6 anos.
Quando o caçula tinha por volta dos dois anos, a sargento Nathalia começou a perceber algumas características diferentes. Após um ano e meio de investigação, ela recebeu o diagnóstico de transtorno do espectro autista.

“Muitas mães sentem um abalo grande neste momento da descoberta. Para mim, foi diferente. O meu coração de mãe já sabia, então não foi bem uma novidade. A aceitação veio tranquila, porque antes de qualquer rótulo, ele é o meu filho. E é por ele que eu luto, me fortaleço e caminho com coragem todos os dias. Eu acredito que as mães precisam confiar nesse potencial que só elas têm, não devem se calar por medo do julgamento alheio e é importante procurar ajuda quando algo inquietar o coração”, aconselhou.
Após o Curso de Formação de Praças, a sargento Nathalia atuou no Regimento de Polícia Montada D. Pedro I e em seguida no Batalhão Escolar. Atualmente, ela trabalha na Seção de Estoque e Distribuição de Material da Diretoria de Logística (DLog/4). Sobre a relação entre a atividade profissional e a maternidade, Nathalia frisa que unir as duas áreas é se equilibrar o tempo todo.

“São dois papéis intensos, que exigem muito, mas também nos transformam diariamente. Na Polícia Militar, aprendi a ser forte, a ter disciplina e agir com firmeza mesmo nas situações mais difíceis; sendo mãe, aprendi o valor da paciência, da escuta e da sensibilidade. Conciliar esses dois mundos é um desafio, mas um desafio que me enche de orgulho, da profissional e da mãe que me tornei”, refletiu.
“A maternidade atípica entrou na minha vida de forma sutil, mas transformadora. Aprendi que ela não precisa ser vivida sozinha. Existem muitas outras mães vivendo essa realidade e criar vínculos e compartilhar vivências, pode ajudar, e muito, a superar os desafios”, complementou.

Soldado Erica: do medo e angústia à força e determinação
Servindo no Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), a soldado Erica Torres (turma de 2022) é mãe do José Neto (12). Único filho da militar, ele foi diagnosticado com transtorno do espectro autista quando tinha quatro anos.

“Quando o José tinha por volta de um ano e meio, eu percebi que ele não apresentava desenvolvimento semelhante às crianças da mesma faixa etária, como interagir com outras crianças e olhar nos olhos das pessoas. Esse comportamento me acendeu um alerta de que havia algo diferente. Nesse momento, o medo e a angústia tomaram conta de mim porque eu não estava preparada para receber aquele diagnóstico”, confessou.

A partir de então, a soldado Erica recorda que foi iniciada toda a logística, encaixando as terapias, a escola e os estímulos em casa dentro da rotina da família. E com o tempo, o medo e a angústia foram dando espaço a outros sentimentos.
“Chegou um momento em que eu percebi que aquele diagnóstico não era um fim, que o amor de uma mãe pelo seu filho e o desejo de ver ele evoluir a cada dia são superiores a qualquer coisa. Com o tempo, fomos vendo os seus avanços, seu desenvolvimento e sua evolução. Ver ele realizando sozinho suas pequenas atividades diárias, percebê-lo socializando com outras pessoas, tudo é muito gratificante e é meu combustível para continuar seguindo em frente, grata a Deus todos os dias por ter me escolhido para ser mãe desse ser tão amoroso, carinhoso e cheio de luz”, agradeceu.

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