Internacional

Israel x Irã: quais as possibilidades de envolvimento de outros atores no conflito?

16/06/2025
Israel x Irã: quais as possibilidades de envolvimento de outros atores no conflito?
Foto: © AP Photo

Os impactos do conflito iniciado na semana passada entre Israel e Irã para o mundo são imprevisíveis e preocupantes, como apontam especialistas, autoridades mundiais e organismos internacionais.

Desde os primeiros ataques perpetrados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) na madrugada da última sexta-feira (13), centenas de civis morreram no Irã e dezenas do lado de Israel, segundo as autoridades. Israel também afirmou ter assassinado cientistas nucleares e militares iranianos. Diversas instalações iranianas nucleares também foram atingidas.

O recrudescimento dos ataques e anúncios de alvos com material nuclear destruídos por ambas as partes acende o alerta de perigos inéditos para o planeta.

A fim de aprofundar e esclarecer esse temeroso contexto geopolítico, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, ouviu o pesquisador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC) e membro do Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais (NERINT) João Gabriel Fischer Morais Rego, nesta segunda-feira (16).

O pesquisador, que também é doutorando em ciências militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), desenhou alguns cenários possíveis com a escalada do conflito, como a entrada dos EUA de maneira direta.

Um deles envolveria ações retalhadoras do Irã contra outros atores regionais, como a Arábia Saudita, que é um dos principais parceiros dos Estados Unidos dentro do Oriente Médio.

"Isso levaria, por exemplo, os Estados Unidos a intervir, principalmente, por causa da instabilidade que provocaria, não somente na região, mas no próprio mercado energético mundial, elevando os preços ou outras consequências também", ponderou.

Ele também citou o potencial fechamento do Estreito de Ormuz, ou algumas operações no Estreito de Ormuz, que afetaria o mercado energético mundial.

O fato de o Irã ser um dos principais fornecedores de gás e petróleo para a China faz ainda com que uma abrupta interrupção tenha efeito cascata, uma vez que o impacto na indústria chinesa atinge quase todos os países do mundo.

O aumento do preço do petróleo em cadeia também traz consequências difíceis de prever, pois afetará o mundo todo em diferentes frentes.

"O aumento dos preços dos combustíveis também aumenta o preço do frete. Aumenta o preço do frete, aumenta o preço de quase tudo que compramos também".

Os bombardeios de usinas nucleares no Irã representa o risco mais preocupante para o entrevistado, dada a possibilidade de vazamento de radiação.

Erro de cálculo?

O analista comentou que a tática de Israel de matar cientistas nucleares e militares iranianos no primeiro ataque apontou para uma tentativa de neutralizar as ações iranianas, o que não ocorreu. Por outro lado, a infalibilidade do sistema de defesa israelense caiu por terra após os ataques iranianos:

"Não é o que a gente tem visto, pelo menos nas imagens que chegaram neste final de semana para a gente", comentou ele.

Segundo Rego, a estratégia iraniana de realizar "ondas de lançamento de mísseis" em um curto período de tempo tem saturado as defesas aéreas de Israel, possibilitando que alguns mísseis "furem" o sistema de defesa, que é oneroso e tem causado altos prejuízos a Israel.

"A economia israelense tem sofrido absolutamente os conflitos que a gente pode observar desde o 7 de outubro, tem sofrido as consequências, seja das ações dos conflitos com o Hamas, com o Hezbollah e com outros atores. Agora, com o conflito com o Irã, há uma escalada grande para o cenário de instabilidade e, consequentemente, vai elevar os efeitos contra Israel".

Interferência de outros atores no horizonte?

Com exceção da Jordânia, que tem realizado algumas ações para conter mísseis que passam por seu espaço aéreo, os países da região, como Arábia Saudita e Iraque, na opinião do pesquisador, não devem intervir no conflito.

"A Arábia Saudita, mesmo tendo a normalização [das relações] do Irã em 2023, é um rival iraniano nos seus interesses. Mesmo assim, se a Arábia Saudita intervir defendendo um dos lados, pode sofrer as consequências da ação do outro, o que leva a prejuízo, por exemplo, da sua própria indústria de petróleo", opinou ele, ao acrescentar que o Iraque, embora parceiro do Irã, ainda não conseguiu se recuperar da guerra de 2003 e não tem condições de se posicionar belicamente.

Além disso, Iraque e Jordânia têm parcerias com os EUA, principais aliados de Israel, sublinhou o pesquisador.

Para o especialista, há poucas chances de intermediários conseguirem negociar com os dois lados e tentarem um cessar-fogo no atual momento.

Terceira Guerra Mundial?

Apesar da gravidade do conflito, o analista avaliou ser improvável ataques envolvendo armas nucleares. E também descartou a possibilidade de uma guerra envolvendo o planeta como um todo, destacando que o mais provável é que o conflito se mantenha regional, entre os dois atores ou com possibilidade de envolvimento dos Estados Unidos.

"O Irã pode ter mais do que o Ocidente acha que ele tem e uma bomba nuclear já poderia estar pronta, só que aí ele sabe que é o veneno que mata não só o rato, é o veneno que mata o cara que quer matar o rato. Se o Irã tivesse já seu artefato nuclear, seria um considerável poder dissuasório para qualquer ação contra os interesses iranianos ou contra o próprio território iraniano", concluiu.

Por Sputinik Brasil