Uma tragédia familiar envolvendo violência de gênero e controle social chocou o Paquistão nesta semana. Um homem foi preso após matar a própria filha, de 16 anos, a tiros, por ela se recusar a apagar sua conta no TikTok. O crime ocorreu na última terça-feira (8), na cidade de Rawalpindi, e foi confirmado pela polícia nesta sexta-feira (11).

Segundo o boletim de ocorrência, o assassinato foi motivado por uma suposta “violação da honra” familiar — justificativa frequentemente usada para crimes contra mulheres no país. A família tentou inicialmente encobrir o caso, simulando um suicídio, mas a versão foi desmentida durante as investigações.

“O pai exigiu que a adolescente excluísse o perfil na rede social. Diante da negativa, ele atirou nela”, relatou um porta-voz da polícia à agência AFP.

O TikTok é amplamente utilizado entre jovens no Paquistão, sendo uma das poucas ferramentas digitais acessíveis até mesmo entre usuários com pouca escolaridade. A plataforma tem se tornado uma alternativa de visibilidade e renda para mulheres, em um país onde menos de 25% delas fazem parte do mercado formal de trabalho.

Apesar disso, o uso de redes sociais por mulheres enfrenta forte resistência em uma sociedade profundamente conservadora. Apenas 30% das mulheres paquistanesas possuem smartphones, contra 58% dos homens — a maior disparidade de acesso digital no mundo, segundo o Mobile Gender Gap Report 2025.

O caso se soma a outros semelhantes registrados no país. No início do ano, outro pai admitiu ter mandado matar a filha de 14 anos, também por vídeos postados no TikTok. A repressão às redes sociais é constante, com autoridades ameaçando bloquear o aplicativo sob alegação de promover “conteúdo imoral”.

O assassinato reacende o debate sobre os chamados "crimes de honra", a desigualdade de gênero e o controle social sobre mulheres e meninas no Paquistão.