Cidades
Wesley Safadão deve ser ‘atração surpresa’ do FIPI 2025 em Palmeira dos Índios; cachê pode ultrapassar R$ 1 milhão e reacende debate sobre uso de verba pública
Enquanto comunidades indígenas protestam por infraestrutura básica, município deve anunciar artista com histórico de shows milionários pagos por prefeituras

O cantor Wesley Safadão, um dos nomes mais populares e também mais caros do show business nacional, deve ser a atração surpresa da edição 2025 do Festival de Inverno de Palmeira dos Índios (FIPI). A informação ainda não foi confirmada oficialmente, mas ganhou força nas redes sociais do evento, que vêm fazendo teasers e sugestões enigmáticas que apontam para o nome do artista cearense.
Se confirmado, o show representará um dos maiores investimentos individuais já feitos pela Prefeitura em uma única apresentação artística. Conforme registros oficiais de contratações anteriores, o cachê de Safadão pode ultrapassar R$ 1 milhão, como ocorreu em Maceió no São João Massayó 2025, onde o artista recebeu R$ 1,2 milhão por uma apresentação de menos de duas horas.
Um histórico de valores milionários
Wesley Safadão tem figurado com frequência no topo da lista de artistas mais contratados por prefeituras em eventos financiados com dinheiro público — e também no centro de investigações e ações judiciais por parte do Ministério Público (MP) e Tribunais de Justiça estaduais.
Além do caso de Maceió, em que o cantor protagonizou o show mais caro da festa, há registros de R$ 1,1 milhão em cachês pagos por prefeituras da Bahia, Pernambuco e Paraíba. Em outros municípios, como Viçosa (AL) e Zé Doca (MA), shows de Safadão foram cancelados por ordem judicial, sob alegação de uso desproporcional de recursos públicos em detrimento de serviços essenciais à população.
Em Viçosa, a Justiça entendeu que o valor de R$ 600 mil para um show do artista “conflitava com a ausência de condições básicas de vida digna”. Em Zé Doca, o evento foi cancelado por estar sendo realizado enquanto unidades de saúde estavam paralisadas por falta de recursos.
Palmeira dos Índios: festa milionária e povo na poeira
Caso o nome de Wesley Safadão seja confirmado no FIPI 2025, o valor do cachê do artista poderá elevar o custo total do evento que será em média de R$ 4 milhões, considerando que os cachês já contratados — como Péricles, Murilo Huff, Amado Batista e Natanzinho Lima — já se aproximam de R$ 3 milhões, conforme apuração da Tribuna do Sertão.
A previsão de mais esse gasto ocorre justamente no momento em que comunidades como a Aldeia Indígena Fazenda Canto, da etnia Xukuru-Kariri, protestaram por calçamento, drenagem e acesso a serviços básicos. A estrada da comunidade, segundo moradores, está intransitável, afetando o transporte escolar, o acesso à saúde e o escoamento da produção agrícola.
“Tem R$ 600 mil pra show, mas não tem R$ 600 pra pisarrar estrada indígena!”, declarou uma liderança durante o protesto na prefeitura esta semana.
Debate ético e legal
Embora a prefeitura defenda o FIPI como vetor de desenvolvimento turístico e econômico, cresce o questionamento popular e institucional sobre os critérios de contratação e a priorização orçamentária. O Ministério Público já vem acompanhando casos similares em todo o país, especialmente quando há indícios de desproporcionalidade nos gastos com entretenimento.
O FIPI 2025 promete mais uma vez atrair multidões e movimentar o comércio local. Mas, à sombra das luzes do palco, a pergunta que se impõe é: é ético investir milhões em shows enquanto bairros e comunidades continuam sem o mínimo?
A Tribuna do Sertão continuará acompanhando os desdobramentos e o anúncio oficial da atração surpresa.
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